Crónicas

O náufrago Tom Hanks Cabrita

Essa figura, recuperada por António Costa para o Governo para substituir Constança Urbano de Sousa na pasta da Administração Interna tem sido o rosto da inoperância e da irresponsabilidade

Sou observador atento e interessado de todos os temas relacionados com a política nacional há já alguns anos. Dos momentos inusitados que me recordo, passados na Assembleia da Republica, há um em especial que me vem sempre à cabeça e do qual não consigo sentir nada senão vergonha alheia, pelas tristes e ridículas figuras. Refiro-me ao dia em que o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais ( do Governo liderado por Pedro Passos Coelho ), Paulo Núncio, e o deputado do PS Eduardo Cabrita se envolveram, numa ‘luta’ pelo microfone, na Comissão de Orçamento e Finanças, que o socialista presidia.

A cena durou cerca de 15 minutos e transformou-se num dos momentos mais constrangedores de que há memória no Parlamento. O caricato e obtuso comportamento do deputado que na altura presidia à comissão, não foi sequer sensível ao facto de tradicionalmente os presidentes das comissões parlamentares não participarem no debate ( a sua função cinge-se a passar a palavra funcionando como mediador ). Dita a regra que quando o presidente quer usar da palavra deve suspender as suas funções, fazendo-o como deputado. Mas a dita personagem, não quis sequer saber. Foi desligando o microfone a uma figura do Estado e usando da palavra a seu bel-prazer.

Essa figura, recuperada por António Costa para o Governo para substituir Constança Urbano de Sousa na pasta da Administração Interna tem sido o rosto da inoperância e da irresponsabilidade. Mas também da falta de vergonha, postura aliás recorrente nas mais altas figuras do País, dando um ar de impunidade e de que ao contrário do que seria recomendável na política não se tiram consequências dos atos praticados. Uma autêntica caldeirada de Cabrita onde os condimentos se vão acumulando e a falta de noção vai impedindo o próprio de ver que o caldo se entornou há muito. Desde as golas antifumo (que afinal não o eram) aos erros clamorosos do SIRESP, passando pela morte do cidadão ucraniano, Ihor Homenyuk às mãos do SEF e que a todos nos envergonha à mais recente polémica requisição civil do empreendimento turístico Zmar. Parece que em tudo o que mete as mãos, estraga ou arranja confusão.

Como cereja no topo do bolo a declaração aos jornalistas, momentos antes da cerimónia de entrega de uma nova lancha da GNR. Quando questionado sobre o pedido de demissão de vários partidos afirmou “Coitado do CDS. É um partido náufrago. Estamos aqui para salvar os portugueses, não podemos ajudar um partido náufrago” . Faz lembrar a célebre personagem interpretada por Tom Hanks no filme “Castaway”. É caso para perguntar quem será o Wilson para quem tanto fala e se depois de tantos pirolitos engolidos e efusivos esbracejares o Ministro náufrago terá a mesma sorte…