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Cabe aos sírios decidir o futuro do seu país

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O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, defendeu hoje que "cabe aos sírios" decidir o "futuro da Síria", salientando que, se o regime de Bashar al-Assad der "passos nessa direção", a UE irá "responder".

"Os sírios têm de decidir o futuro da Síria e o futuro da Síria não pertence a nenhuma das fações nem a nenhum dos poderes externos: cabe aos sírios moldá-lo, através de negociações sírias e lideradas por sírios, sob o auspício das Nações Unidas. O regime sírio deve dar passos nessa direção e, se o fizerem, nós iremos responder", defendeu Josep Borrell.

O Alto Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, falava durante uma conferência de imprensa à margem da 5.ª Conferência de Bruxelas sobre o apoio ao futuro da Síria e da região.

Argumentando que o facto de se tratar da quinta edição da Conferência de Bruxelas não é um "motivo para celebrar", Borrell destacou que, pelo contrário, mostra como a "situação do povo sírio é trágica e prolongada".

"Do lado da UE, envia uma mensagem simples: a UE tem-se mantido do lado dos sírios e daqueles que os acolhem enquanto refugiados durante toda a crise. E iremos continuar a fazê-lo o tempo que for necessário", frisou.

O Alto Representante enumerou assim um conjunto de dados -- como os 400 mil óbitos durante os 10 anos de conflito ou os 12 milhões de refugiados que gerou -- para ilustrar a "dor e sofrimento por que os sírios estão a passar" e o quanto a "Síria está hoje devastada".

"No entanto, para conseguirmos encontrar o remédio certo, não podemos esquecer-nos das causas do problema: há exatamente 10 anos, os sírios manifestaram-se pacificamente a pedir liberdade, justiça e perspetivas económicas. O regime respondeu com violência extrema, incapaz e sem vontade de responder a esses pedidos", sublinhou.

Apelando assim a que o regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad, "dê passos" para uma transição política, Borrell afirmou que, até lá, a UE irá continuar a "mobilizar todos os seus esforços para responder às necessidades crescentes do povo sírio e dos países vizinhos que acolhem 5,6 milhões de refugiados".

"Nos últimos 10 anos, a UE e os seus Estados-membros têm sido o principal fornecedor de apoio à Síria, com mais de 25 mil milhões de euros disponibilizados desde o início da crise", referiu.

No âmbito da Conferência de Bruxelas, a que copreside com a Organização das Nações Unidas (ONU) e que serve para angariar fundos para responder à necessidade da população síria, Borrell anunciou assim que a UE irá doar mais 560 milhões de euros.

O chefe da diplomacia europeia frisou ainda que a Conferência de Bruxelas tem sido "crucial" para "sublinhar o apoio político e financeiro" à Síria, mas também para "responder às questões humanitárias e de resiliência mais críticas" que afetam os sírios e os países que os acolhem.

Além disso, Borrell destacou também o papel que a sociedade civil síria desempenha nesta conferência, tendo a mesma contado, na segunda-feira, com a participação de mais 1500 membros da sociedade civil.

"A voz da sociedade civil é crucial para perceber plenamente o que está a acontecer, o que é necessário e como é que a Síria de amanhã pode ser moldada e construída. Eles trazem esperança para o seu futuro, para uma Síria pacífica e diferente", concluiu.

Iniciada em 2017, a Conferência de Bruxelas sobre o apoio ao futuro da Síria e da região, copresidida pela UE e pela ONU, tem como objetivo "apoiar o povo sírio e mobilizar a comunidade internacional no apoio a uma solução política abrangente e credível para o conflito sírio".

Numa altura em que, em 15 de março, se celebrou o décimo aniversário do início da guerra civil no país, a 5.ª Conferência de Bruxelas irá também servir para angariar fundos para "responder às necessidades da população" assim como das suas "comunidades de acolhimento".

Além de Josep Borrell, a conferência contou também, entre outros, com a participação do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Francisco André, e com uma intervenção gravada do secretário-geral da ONU, António Guterres.