Carta de despedida

Escrevo estas linhas nos moldes em que habitualmente eram redigidas as cartas do antigamente, quando as pessoas acreditavam que seria possível no futuro um mundo melhor, quando as promessas eram cumpridas, quando o convívio e a partilha eram feitos sem objetivos interesseiros apenas porque achávamos que era o normal, quando as crianças esperavam ansiosamente a vinda do menino Jesus e os adultos na sua crença e na sua fé ansiavam todos os anos pelo Natal das pessoas e das vivencias. Hoje no século XXI onde o medo substituiu a esperança, a desconfiança aniquilou a fé e a mentira erradicou a verdade, parece que caminhamos para o fim da autêntica essência humana, quando na realidade seremos nós, os homens e mulheres de boa vontade que poderemos restaurar a esperança, resgatar a fé e restituir a verdade num mundo onde cada vez mais se promove o distanciamento entre seres que não foram criados para viverem isolados. Assistimos à partida de muitos dos nossos amigos, companheiros e familiares com um sentimento de desilusão pois até nos condicionam e dificultam a comunhão com nos seus últimos dias. O mundo caminha para a auto destruição e não é uma profecia apocalíptica, mas a patente falta de humanismo, de afetividade, de ética, de carinho e de tolerância cada vez mais semeia a dúvida acentuada pelo medo a que estão a conduzir as pessoas nos nossos dias. Vem aí 2022, nas incertezas, nas dúvidas e outra vez no medo de não sermos capazes de superar toda esta situação um tanto ou quanto esquizofrénica e intimidatória duma sociedade cada vez mais mergulhada na dúvida, na arrogância e no protagonismo. Entraremos num novo ano quase que em campanha eleitoral, caso inédito ao longo de mais de 4 décadas de democracia, numa incerteza política dum país mergulhado numa crise onde a corrupção da classe política cada vez mais desacreditado fruto dos seus próprios erros até diria que propositados, para cada vez mais os eleitores optarem por se recusar a participar na escolha dos que até aqui quase terem sido os seus próprios «carrascos». Num país onde a ignorância promove a própria miséria, que condecora corruptos, promove vigaristas, e perdoa ladrões, parece ser impossível ao povo, recuperar o controle do regime democrático que se diz na filosofia da sua origem Grega; poder do povo. Vamos voltar a tomar a rédeas da liberdade conquistada há quase 48 anos pelos corajosos militares de Abril que infelizmente «esqueceram-se» de educar os cidadãos para a vivencia numa plena e autêntica democracia participativa e que políticos sem escrúpulos, sequestraram-na para seu benefício próprio, legalizaram o roubo e institucionalizaram a corrupção. O país e a democracia vivem de dogmatismo a mais que terá de ser substituído por pragmatismo. Porque abstenção não será a solução para pôr termino ao maior flagelo da nação; a corrupção, a 30 de janeiro chega a grande oportunidade de restaurar a liberdade, resgatar a democracia e restituir os valores da sociedade. Se os 50% de eleitores que não votam decidirem alterar o seu comportamento, Portugal poderá mudar. Por isso que: com coragem e determinação poderemos realmente instaurar um novo modelo de regime onde a dignidade e a verdade sejam apanágio de quem nos governe, para isso será necessário substituir o medo de mudar, pelo querer e pela coragem determinante em realmente poder ter um AUTÊNTICO NOVO ANO.

A. J. Ferreira