Carta aos socialistas

1. “Estou onde sempre estive”, desde 1974. Não por causa do cartão de inscrição partidária, obtido em 1996, no dia a seguir a mais uma derrota socialista. Mas não entrei derrotado, de imediato, propus uma plataforma da oposição no DN, na edição desse ano de 9 de novembro. Aqui estou, como sempre, pelas causas que são as do socialismo democrático, entre todas, a da Liberdade. Quando discordei da forma como se preparava a candidatura socialista a presidente do governo, em 2011, afastei-me, deixando a função no gabinete da vice-presidência socialista do parlamento e regressei ao ensino, que é por vocação, voltando a valores auferíveis de menos de metade. Para meu desgosto, os resultados desse ano, puseram o PS à beira de ser ultrapassado pela Direita parlamentar. Reafirmei as causas da solidariedade, quando apresentei o programa da Plataforma dos Cidadãos, tendo antes entregue o cartão ao partido. Aludi à frase que vos dirijo no início do texto, e que bem conheceis, quando me candidatei como independente socialista à Camara de Santa Cruz pelo Bloco de Esquerda, então coligado com o PS na Câmara do Funchal, não sem antes ter alvitrado a destacados socialistas uma aliança liderada pelo PS com o BE nesse Concelho. E nada mudei, quando aceitei, já depois do resultado de 2019, o convite para retomar o cartão de militante, com o mesmo número de 1996, porque sempre fui o que sou, socialista.

2. Nada como bramir o “inimigo” para calar as vozes que querem o debate democrático e livre no partido, na região ou no país e até na União Europeia em que estamos e vivemos. Por causa do “inimigo” quantos milhares de comunistas genuínos mandou Stalin para a Sibéria? Quantos portugueses mandados para o exílio e para a morte? Quantos desvios democráticos na região, invocando «Lisboa»? Quantas distorções do projeto europeu? Os partidos perdem a dinâmica e paralisam. As nações e as regiões atrasam o tempo do progresso. A democracia fenece. E tudo por causa do inimigo invisível. Afinal, a razão para invocar o perigo do “inimigo” sempre foi a mesma, manter o poder e impedir a Alternativa, aquela pela qual luto há um quarto de século, e que, de novo, proponho ao Partido e à Região. Concluo com uma frase do Estadista, Mário Soares, que nos legou a primeira frase – Só é vencido quem desiste de lutar!

Miguel Fonseca