Mundo

Chanceler austríaco tenciona manter-se no cargo apesar de acusações de corrupção

None
Foto EPA/CHRISTIAN BRUNA

O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, negou hoje ter cometido qualquer irregularidade e deixou claro que não tenciona demitir-se depois de procuradores anticorrupção terem anunciado que ele é alvo de uma investigação de suborno.

Contudo, o partido parceiro da coligação governamental de Kurz disse hoje que a investigação criou uma imagem "desastrosa" e levantou questões sobre "a capacidade de ação" do chanceler.

Procuradores do ministério público austríaco revelaram na quarta-feira estar a investigar Kurz, outras nove pessoas e três organizações não-identificadas por suspeita de quebra de confiança e suborno, tendo realizado buscas na Chancelaria, no Ministério das Finanças e nos escritórios de Kurz no conservador Partido Popular Austríaco.

O caso centra-se em acusações de que dinheiro do Ministério das Finanças foi usado entre 2016 e, pelo menos, 2018 para pagar sondagens manipuladas favoráveis a Kurz e publicadas num jornal sem serem identificadas como publicidade.

Kurz tornou-se líder do seu partido e depois chanceler em 2017, após ter anteriormente ocupado o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros da Áustria.

Num caso separado, as autoridades de combate à corrupção puseram o chanceler de 35 anos sob investigação em maio, por suspeita de falsas declarações numa comissão parlamentar, uma alegação que ele também rejeitou.

Numa entrevista concedida na quarta-feira à noite à estação pública de televisão ORF, Kurz negou responsabilidade em qualquer irregularidade relacionada com sondagens publicadas.

"Não há absolutamente qualquer indício de que eu tenha dado ordens sobre que anúncios ou sondagens eram encomendados pelo Ministério das Finanças", afirmou.

Segundo o chefe do executivo austríaco, as suas mensagens de texto não contêm instruções ou pedidos "e, ao mesmo tempo, os procuradores divulgam a teoria de que tudo é dirigido por Kurz".

O chanceler disse estar "muito tranquilo" quanto às acusações.

"Aquilo que não entendo é por que é que devo sempre ser o culpado de todas as ilegalidades. Vamos analisar se estas acusações contra funcionários do Ministério das Finanças são verdadeiras. Com a melhor das boas vontades do mundo, não consigo imaginar isso", observou.

Interpelado sobre se continuará a ser chanceler, apesar destas investigações, Kurz respondeu: "Sim, claro".

O partido dos Verdes, o parceiro minoritário da coligação de Kurz desde que este venceu um segundo mandato, no início de 2020, estava bastante menos descontraído.

O vice-chanceler, Werner Kogler, que também é o líder do partido ecologista, escreveu na rede social Twitter que "a imagem é desastrosa" e que as acusações devem ser totalmente esclarecidas.

"A capacidade do chanceler para agir está em causa, neste contexto. Temos de garantir estabilidade e ordem", declarou Kogler.

Segundo o governante, os Verdes estão a propor conversações com todos os outros partidos com assento parlamentar para discutir sobre como proceder.

O Presidente austríaco, Alexander van der Bellen, agendou para hoje e sexta-feira reuniões com Kogler, Kurz e os líderes da oposição.

Kurz sublinhou hoje que o seu partido ganhou as duas últimas eleições legislativas e que "defende" o Governo que formou com os Verdes, elogiando a sua cooperação durante a pandemia de covid-19.

"Se os Verdes não querem continuar esta cooperação e querem procurar outras maiorias no parlamento, então, isso tem de ser aceite", declarou.

A primeira coligação de Kurz, com o Partido da Liberdade, de extrema-direita, desfez-se em 2019. O chanceler pôs-lhe termo após a divulgação de um vídeo em que se via o então vice-chanceler, Heinz-Christian Strache, a oferecer favores a um alegado investidor russo.