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A Pobreza

A pobreza não se explica unicamente pelas causas sociais, mas também pelo mistério da iniquidade ou do pecado existente em cada um de nós. Vivemos numa época de muitos amores e de pouco amor. A pobreza hoje é um facto paradoxal e provocante. Ela demonstra o fracasso de uma sociedade que não dá a todos, aquilo que cada um se sente com direito. Na pobreza não podemos ignorar o pobre. Pobre é toda a pessoa destituída do poder. As sociedades modernas não conseguem evitar a miséria. Tudo leva a crer que quando se resolvem os problemas actuais outros surgirão. Aliás, a pobreza hoje tem novos aspectos e novos contornos. Para certos casos de pobreza não se dispõe de técnica e terapêutica eficaz. Não é, nem nunca será fácil falar sobre a pobreza. Por detrás das palavras, está uma realidade escaldante e incómoda, que qualquer palavra que não seja comprometida e geradora de compromisso se arrisca falsear.

Assembleias, congressos, convênios, comités, vós brincais às bonecas com a miséria do mundo, enquanto a revolução se faz sem vós. Penseis que salveis o mundo, oh desgraçados, com discursos de homens de estado ou com os votos das assembleias. Vede o que se passa no mundo. Quem é quem pratica a caridade operante, diligente, unitiva, segregária e oblativa. A caridade não é esmola que a mesquinha e avilta. É o testemunho concreto do evangelho vivido que se manifesta como força humanização e revelação do amor de Deus. A caridade é absoluto amor. O paraíso, o verdadeiro paraíso, é adormecer todas as noites pensando e querendo que todas as pessoas são felizes. A caridade, para nos desembaraçarmos dela (é aborrecido, bem o sabeis, ser obrigados a amar a todos!), reduzimo-la à esmola. Para fugirmos à verdadeira caridade fazemos caridadezinha. O que é preciso é que a miséria dos outros se imprima na nossa carne, queime o nosso sangue. Ou que ela obsessione os nossos pensamentos demasiados tranquilos e sibaristas. A caridade é, antes de mais, descobrir e respeitar o homem no pobre. Organizemos, pois, a epidemia da caridade. Até ao dia em que, reunciado dizer: Eu, os meus bens, os meus negócios, a minha riqueza, os homens proclamarão, no seu coração libertado: o que eu tenho é o que eu dei. Com efeito, capitalistas, só a caridade, um dilúvio de caridade, é que poderá salvar a humanidade. A luta contra o facilitismo, o parasitismo, a passavidade, o consumismo e toda a espécie de drogas, exige uma colaboração lekl de todos os intervenientes no processo educativo, os quais terão sempre presents estas questões: Quais os objetivos a atingir? Quais os destinatários? Com que meios? Qual o tempo disponível? Com que cooperantes? Precisamos de desenvolver políticas de solidariedade social e apelar à fantasia do amor, não empurrando para os outros aquilo que está ao nosso alcance. Além disso sabemos que a pobreza, sobretudo na sua exclusão social, não se combate apenas com recursos económicos. Nunca como hoje a caridade tem de partir do amor ao próximo, ou melhor, da atitude de nos tornarmos próximos dos mais necessitados. Há que olhar de frente à decadência social, com a clarividência de adultos capazes de ver o que está errado, e a coragem de criar condições para que os erros sejam corrigidos é de referências morais, de promoção cultural e de educação humanista que a sociedade está carecida do teu sim ou do teu não depende a felicidade de muitos. Combater a pobreza é o maior desafio da humanidade. Há milhares de coisas que os países ricos podem fazer em prol dos que se encontram numa situação desesperada e aporística, mas enquantos nós próprios não nos convencermos de que temos também de sair dos nossos palácios de marfim e ir ao encontro dos pobres e famintos, seremos sempre os amáveis cúmplices de milhões de pessoas em todo o mundo. O profeta é um homem do seu tempo, mergulhado na realidade e nos ingnaros desafio da sociedade em que está integrado: conhece o mundo e é capaz de ler, numa perspetiva crítica, os problemas, os dramas e as infelicidades dos seus contemporâneos.

Não se pode pretender erradicar a pobreza do mundo e fazer com que deixe de haver pobres entre nós, quando aos mesmo tempo continuamos a propagandear aos quatros ventos, que ser rico é que é bom, que os ricos são pessoas de sucesso dignas de todo o respeito e de toda a nossa admiração? Com uma tal cultura, difundida de múltiplos modos nas televisões e redes sociais de todo o mundo, o sonho das pessoas e dos povos será cada vez mais enriquecer, fazer-se rico. Nunca será de mais esforçar-se para que a riqueza produzida seja repartida com equipolência por todos, segundo as necessidades de cada um, de cada mulher e de casa povo. Partilhar e ensinar, para que alguns não tenham de buscar nos caixotes do lixo o que lhes falta. Partilhar e ensinar as crianças e os jovens a condividir, para que não caiam na escravidão do egoísmo. Partilhar o que faz falta e não só o que sobra, já que os homens são obrigados a auxiliar os pobres e não só com bens supérfulos. Faltam, por vezes, a quem governa a subtileza, a magnanimidade e a atenção necessárias para apanhar e agregar todos os fios que conduzem a uma decisão – quem lida só com números onde estão pessoas, e de confundir grupos sociais com estatísticas. E isto, não pode ser só ser um erro, mas também uma grande injustiça.