Análise

Depressa e bem que se faz tarde

Somos todos chamados a cooperar numa missão sem precedentes

Se é “preciso agir depressa e drasticamente”, como recomenda o Presidente da República, vamos a isso. De preferência, todos, com os mesmos propósitos, com responsabilidade acrescida, com determinação renovada, pois não podemos deixar apenas para os empenhados profissionais de saúde a importante missão redentora da humanidade.

. Sejamos obedientes. Se a ordem é para ficar em casa, lavar as mãos, usar máscaras e manter o distanciamento social não há razão para desrespeitar regras e tentar instalar modos de vida alternativos, alegadamente ao abrigo da irreverência despropositada, carente de afectos efusivos e muito dada aos perigosos ajuntamentos, seja em esplanadas sempre que o sol brilha, ou nas tascas sempre que a sede aperta. Guardemos antes o vigor das atitudes para combater o inimigo comum que actua independentemente de haver ou não fiscalização por perto e multas pesadas, e que nos usa para contagiar milhares de indefesos.

. Suspendamos hábitos amigos do vírus imparável. Evitemos distracções inúteis, algumas alimentadas por discussões parciais inconsequentes, como a que está instalada em torno dos critérios de vacinação ou a que alguns fervorosos apoiantes do candidato vencedor nas Presidenciais desencadearam para colar as suas insígnias ao estrondoso resultado de Marcelo e com ele obter dividendos políticos.

. Suspeitemos de negócios feitos por oportunistas sem escrúpulos que começam a facturar sem limites com a pandemia, alguns dos quais importa investigar demoradamente.

. Não gastemos dinheiros em caprichos, numa era em que a “bazuca” tarda e a liquidez não abunda.

. Não percamos tempo com trivialidades e especulações, demagogias e intolerância. Nada nos deve desviar do essencial.

. Aproveitemos estes dias de recato para delinear estratégias. Um dia teremos de voltar, corajosos, a deixar a nossa marca na história.

. Provoquemos a reflexão construtiva de modo a melhorar planeamentos e respostas para dúvidas colectivas. O que nos deu na cabeça para mandarmos emigrar os enfermeiros que agora nos fazem falta? Porque continuamos a gerir mal muitos recursos humanos que não estão a ser aproveitados? Porque diabolizamos os privados tão essenciais, tal como os recursos do sector social, no combate àquele que é um desafio sem precedentes do serviço público de Saúde?

. Confinemos de forma abnegada, pelo tempo que for necessário, ancorados na família que nos dá alento, atentos aos que vivem sós, mas também aos que nos segredam conselhos decisivos, palavras sábias e informação rigorosa para que melhor possa decidir.

. Sejamos exigentes, rigorosos e transparentes. Será sempre por precaução e nunca por estigmatização que o jornalismo exige objectividade a quem tem o dever de ser leal com os cidadãos que serve e repudia a caça tresloucada das fontes de informação.

. Importemo-nos com a segurança comum, sendo mais vigilantes e prudentes, não dando descanso aos amigos do alheio, mesmo que nos custe ver aqueles que foram perseguidos e detidos pela Polícia serem devolvidos à delinquência.

. Sejamos genuinamente solidários e generosos. Na semana passada fomos grandes. Conseguimos retribuir aquilo que, não raras vezes, pedimos quando precisamos de saúde. Voltamos a ser o local da esperança na cura, razão pela qual outrora nos procuravam. Fizemos pelo País neste combate sem tréguas contra a pandemia aquilo que tão bem sabemos fazer noutras dimensões e que nos coloca no topo, como ‘melhores do mundo’ enquanto destino, enquanto referências no futebol e na poesia ou enquanto trabalhadores incansáveis e povo acolhedor.

Transformemos por isso o orgulho colectivo e a gratidão que nos é prestada em sopro vital, que também devem encorajar o governo solidário da Região para posturas meritórias mais naturais e frequentes.

É verdade que vieram apenas três doentes, talvez poucos, atendendo a que temos cerca de 200 camas covid-19 e nem metade estão ocupadas. Mas é o começo, uma disponibilidade que se quer transversal e permanente num País feito de gente que importa salvar.

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