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Svetlana Tikhanovskaya, a Joana d'Arc acidental que não queria ser política

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Por força das circunstâncias, Svetlana Tikhanovskaya entrou na política da Bielorrússia e rapidamente se tornou no rosto da oposição que contesta agora nas ruas a repressão e o autoritarismo de Alexander Lukashenko, no poder há 26 anos.

Acusando Lukashenko de ter manipulado as eleições presidenciais do passado dia 09 de agosto para conquistar um sexto mandato e prolongar um regime com mais de duas décadas, Svetlana Tikhanovskaya, de 37 anos, reivindica a vitória nas urnas e tem vindo a apelar ao oponente para que acabe com a repressão dos protestos populares que tomaram as ruas bielorrussas logo após a divulgação dos resultados eleitorais.

Desde então, mais de 6.700 pessoas foram presas durante ações de protesto e centenas dos já libertados relataram cenas de tortura sofridas na prisão.

Pelo menos duas pessoas morreram e outras dezenas ficaram feridas no decorrer dos protestos.

Segundo a Comissão Eleitoral Central bielorrussa, Lukashenko obteve mais de 80% dos votos no escrutínio de 09 de agosto, enquanto a opositora Svetlana Tikhanovskaia conseguiu uma votação de 10%.

Refugiada na Lituânia, a candidata da oposição à presidência da Bielorrússia tem pedido a Lukashenko para que deixe o poder de forma pacífica.

Apesar de admitir que "não queria ser política", Svetlana Tikhanovskaya aumentou hoje a pressão sobre o oponente, 28 anos mais velho, ao ter afirmado num vídeo que está pronta para liderar o país, porque "o destino decretou que estaria na linha da frente diante da arbitrariedade e da injustiça".

"Estou pronta para assumir as minhas responsabilidades e agir como líder nacional", reforçou Svetlana Tikhanovskaya, professora de inglês por formação que no passado decidiu renunciar à carreira de docente para cuidar do seu filho mais velho, que nasceu surdo.

A entrada na corrida presidencial aconteceu por causa do seu marido Serguei, um reconhecido 'blogger' de vídeos, detido em maio passado depois de ter avançado com a sua candidatura presidencial com a promessa de esmagar uma "barata" chamada Alexander Lukashenko.

Svetlana Tikhanovskaya decide assumir "por amor" a causa do companheiro, que conheceu há 16 anos quando ela era uma estudante e ele era o dono de uma discoteca.

Consegue reunir os apoios necessários e, para a surpresa geral, a Comissão Eleitoral bielorrussa valida a sua candidatura presidencial.

A surpresa era justificada, uma vez que este órgão tinha decidido rejeitar a participação de dois opositores classificados como "mais sérios".

Mesmo antes do escrutínio presidencial, Svetlana Tikhanovskaya já tinha afirmado, em declarações à agência France-Presse (AFP), que esperava uma "fraude descarada", tendo mesmo admitido não ter "nenhuma esperança" na realização de uma votação justa.

Caracterizando-se como "uma mulher comum, uma mãe, uma esposa", a opositora bielorrussa afirma que está a liderar a atual batalha por dever, apesar das ameaças que acabaram por determinar o envio dos seus dois filhos (uma rapariga e um rapaz) para a Lituânia, para onde viajou na semana passada e onde atualmente permanece.

"Abandono a minha vida tranquila pelo (Serguei), por todos nós. Cansei de ter de aguentar tudo, cansei de ficar calada, cansei de ter medo. E vocês?", declarou a opositora numa intervenção feita no final de julho diante de dezenas de milhares de bielorrussos, que receberam estas palavras com uma forte ovação.

O marido de Svetlana Tikhanovskaya continua detido, sendo agora acusado de tentar instigar tumultos no país com a ajuda de alegados mercenários russos.

Em relação ao programa político que deseja aplicar nesta antiga república soviética com cerca de 9,5 milhões de habitantes, Svetlana Tikhanovskaya não tem avançado com muitos pormenores.

No entanto, a opositora tem insistindo em três grandes propósitos: a libertação dos presos políticos, um referendo constitucional e a organização de novas eleições livres.

A relação com a Rússia, o grande aliado da Bielorrússia, consta entre os assuntos sobre os quais "Sveta", como é apelidada pelos seus apoiantes, tem optado por não aprofundar.

Com uma postura hesitante e tímida nas primeiras aparições públicas, esta "Joana d'Arc acidental" - segundo foi caracterizada pelo portal noticioso bielorrusso The Village - tem vindo a ganhar confiança, tendo mesmo impressionado a opinião pública quando surgiu em duas intervenções autorizadas na televisão bielorrussa e denunciou os excessos e as mentiras do regime de Minsk.

De estilo simples e direto, Svetlana Tikhanovskaya aposta numa imagem que pretende transmitir uma "força tranquila" e que represente um forte contraste com a figura imponente do "Batka" ("pai", na tradução em português) Lukashenko.

Para isso, a opositora tem contado com a ajuda de outras duas jovens mulheres: Maria Kolesnikova, ex-diretora de campanha de um opositor detido (o ex-banqueiro Viktor Babariko), e Veronika Tsepkalo, mulher de um opositor do regime de Minsk que se exilou este verão em Moscovo com os respetivos filhos.

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