Artigos

Madeira – Laboratório

Como no passado, a Ilha da Madeira, pode tornar-se um Laboratório na implementação dum Serviço Nacional de Saúde (doravante, SNS) Pós-CoVid 19 mais intrusivo, universal, célere, funcional, transparente e eficaz.

Passo a explicar.

No passado, com D. Manuel I, a Madeira serviu de Laboratório, para a implementação, extensão e expansão do cultivo da cana sacarina, assim como para a divulgação da fé católica por todo o mundo sendo a Arquidiocese do Funchal responsável pelas dioceses de Angra do Heroísmo, Cabo verde, Brasil, Goa (na India) e “de todas as terras descobertas e por descobrir”. Desenvolvendo também a partir da Madeira outros cultivos e organizações, como bem descreve o historiador de arte, Fernando António Batista Pereira, na sua apresentação televisiva do restauro do Retábulo da Sé do Funchal (RTP – Visita Guiada), assim como o define no livro Saudades da Terra, Gaspar Frutuoso.

Somos uma gente resistente, conforme expressam muitos documentos históricos, tendo tal sido também referido nesse mesmo documentário relativamente ao facto de o Retábulo da nossa Sé ser a única igreja católica que resistiu à “fúria” barroca que transformou os Retábulos em rococós dourados excluindo (ou escondendo) as pinturas originais.

Como homem de Laboratório, sempre senti também que a nossa Ilha poderá ser um excelente Laboratório para ensaiar novos caminhos que o SNS deverá implementar, ensaiar e experimentar, mais ainda neste pós-Covid, nomeadamente, na necessidade de se separar definitivamente o exercício público do privado, esgotar por todos os meios as capacidades do SNS, complementando as necessidades não satisfeitas através do sector privado.

Esta necessidade de separação destes dois sectores, implementada neste período CoVid por questões sanitárias, veio pôr em evidência que é possível concretizar essa separação, desde que os vencimentos de cada qual seja compensatório em termos de horas aplicadas, face à expectativa de cada um. Este é, na verdade, genericamente, o modo de trabalho em quase todos os países ditos evoluídos da Europa. Isto é, quem trabalha no Hospital A, não trabalha também na Clínica B; seja médico, enfermeiro ou outro qualquer técnico de saúde. O vínculo à instituição é mandatário, para esta e para aquele. Portanto, um engenheiro civil que trabalhe para uma determinada empresa de construção, “não dá palpites” a uma empresa concorrente; muito menos prestará serviço a essa outra empresa. Esta é a regra geral da relação laboral vigente. Ficam de fora os que trabalham por conta própria. Esses poderão exercer e contratar com quem quiserem. Sempre tivemos muita dificuldade em entender este exercício doutro modo. Temos vindo a praticá-lo durante os últimos 25 anos da carreira profissional.

Assim, e para resumo, do que aqui proponho, é a opinião de que num futuro próximo para o SNS no geral, e em particular o Serviço Regional de Saúde (SRS), seria benéfico (quer para os prestadores, quer para os utentes) uma dinâmica de utilização de todos os meios postos ao serviço de todos.

Os Hospitais Públicos geridos em conformidade com esta visão, passariam a prestar um serviço mais adequado às necessidades, podendo mesmo, ser dimensionados em espaços, instalações, equipamentos, horários e quadros de pessoal, de acordo com as necessidades reais da nossa população.

Os Hospitais e Clínicas Privadas adaptar-se-iam e complementariam as faltas e excessos que o SRS produzisse, sendo certo que poderiam até ser inovadores em técnicas e serviços muito especializados e de que o SRS estivesse carente. Tudo dependeria de negociações prévias e sérias em relação aos valores e necessidades que ao longo do tempo se fossem sentindo.

Nunca poderemos esquecer que somos cerca de 270.000 habitantes, o que limita, em muitos casos, estatisticamente, o desenvolvimento de algumas técnicas médicas, não só em equipamentos, mas também no treino de pessoas. As parcerias com os Serviços de Portugal Continental, quer numa dinâmica de equipas deslocadas, quer de doentes enviados, têm de ser sempre dinamizadas e acertadas.

A dinâmica de internamento seria definida em função dos cuidados de enfermagem necessários a cada momento, implementando-se aqui todos os modernos conceitos desta visão, com 3 ou 4 níveis de necessidades, sendo certo que qualquer utente estará melhor no seu domicílio que fora dele, tendendo-se, naturalmente, para a Hospitalização Domiciliária.

Qualquer crise, como a que estamos a viver, será encarada com frontalidade, e, deste modo, os circuitos para consultas e internamentos estarão sempre atualizados e bem definidos.

Aproveitando os recursos financeiros que virão da União Europeia, caberia bem este tipo de ID e investigação. Não percamos tempo… sejamos percursores e inovadores.

Estou convencido que todos ganharíamos, resta, de facto, implementar (ensaiando, experimentando e dinamizando), como o fizeram os nossos antepassados e com tão bons resultados.

Fechar Menu