Fratelli tutti

No passado dia 3 de outubro, data em que se comemora a morte de São Francisco, o Papa foi a Assis para rezar uma missa privada, no fim da qual, sobre o túmulo de São Francisco, assinou a encíclica Fratelli tutti, todos irmãos, inspirada nos ensinamentos de São Francisco de Assis , tal como tinha sido a encíclica Laudato Si.

O Papa utiliza as mesmas palavras que São Francisco usou nas suas Admoestações, para se dirigira aos irmãos e irmãs propondo-lhes uma forma de vida totalmente baseada nos Evangelhos.

Nesta encíclica, o Papa pretende indicar os caminhos concretos para quem quiser construir um caminho mais justo e fraterno nas suas relações quotidianas, na vida social, na política e nas instituições, apresentando-a como uma encíclica social.

O Papa pretende responder à pergunta: quais são os grandes ideais e os caminhos concretos a percorrer para se construir um caminho mais justo e fraterno nas relações quotidianas, na política e nas instituições?

A fraternidade não deve promover-se com palavras, mas com factos que se concretizem numa melhor política, não sujeita apenas aos interesses económicos e financeiros, mas ao serviço do bem comum, pondo no centro a dignidade de cada ser humano, assegurando trabalho para todos, para que cada um possa desenvolver as suas próprias capacidades. Uma política afastada de populismos, capaz de eliminar tudo o que vai contra os direitos humanos, dirigida a acabar com a fome e o tráfico humano. Sublinha o Papa que um mundo mais justo consegue-se promovendo a paz, que não é apenas a ausência de guerra, mas uma paz efetiva ligada à justiça através do diálogo, em nome do desenvolvimento recíproco. Daí a condenação da guerra que é a negação de todos os direitos e que já não concebível, nem sequer como «guerra justa», pois as suas repercussões terríveis recaem sempre sobre os inocentes. A guerra é o fracasso da humanidade. Tal como a guerra, a pena de morte não é de aceitar, pois exclui a possibilidade de arrependimento, de redenção e de conversão. É a primeira vez que um papa condena a pena de morte. Anteriormente, era considerada admissível, quando se penalizasse o horror de certos crimes.

No oitavo capítulo, o Papa ocupa-se das Religiões ao serviço da fraternidade no mundo e reitera que a violência não se fundamenta nas convicções religiosas, mas nas suas deformações. Atos tão execráveis como o terrorismo não se devem à religião, mas a interpretações erradas dos textos religiosos. Ao mesmo tempo, o Papa sublinha que é possível um caminho de paz entre as religiões, mas, para isso, é necessário garantir a liberdade religiosa, um direito humano para todos os crentes. E a encíclica conclui evocando a memória de Martin Luther King, Desmond Tutu, Mahatma Gandhi e do Beato Carlos de Foucault, este último, para todos, modelo daquilo que significa identificar-se com os mais excluídos e desprotegidos, para se converter no «irmão universal».

A encíclica foi ouvida e muito louvada no mundo muçulmano. Abdellah Redouane, diretor do Centro Cultural Islâmico da Grande Mesquita de Roma, define-a como um dos «tijolos para a construção de uma sólida relação de amizade». Sublinha ainda que a nova encíclica está em continuidade com o documento sobre a Fraternidade Humana, assinado em 2019, em Abu Dabi, entre o Papa Francisco e o Gão Iman de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb. Como na encíclica Tutti Fratell, diz Redouane, «o documento de Abu Dhabi também fala de fraternidade humana.

O Papa recorda isso, afirmando que Deus criou todos os seres humanos iguais em direitos, deveres e dignidade e os chamou para viverem juntos como irmãos, iguais em direitos, deveres e dignidade. Este é um dos tijolos para a construção de uma sólida relação de amizade também com o mundo islâmico.» Abdellah Redouane considera a mensagem da encíclica universal e pode fazer com que «todos se sintam envolvidos».

Cecília Rezende

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