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Coragem para sonhar

Voltei à Madeira e à Nazaré pelo direito a sonhar que é possível uma Madeira diferente

Conheço bem a Madeira, mas conheço melhor o Bairro da Nazaré, onde cresci e vivi a vida toda. A história do Bairro resume a da Madeira. Muitos dos primeiros que chegaram, chegaram sem nada, ou com muito pouco. Não conheço a história de todos, mas conheço a dos filhos e netos de muitos.

Cresci com eles, na Escola da Azinhaga e da Nazaré. A Professora Filomena foi um de muitos anjos que se cruzaram na vida de tantos para ensinar a quem não sabia que havia um futuro diferente possível - e quem não sabia, não sabia porque não tinha como saber, porque ali o que havia era pobreza, dura e violenta, em turmas onde os lápis, as canetas, as borrachas e os cadernos de alguns por vezes eram de todos.

Continuei a crescer com alguns deles na Escola dos Barreiros - e aí percebi ainda melhor como a vida não era mesmo igual para todos. Não era sequer justa, porque enquanto eu tinha tempo e o que precisava para estudar, outros já tinham de trabalhar; enquanto eu brincava nas férias, outros descobriam o que eram as obras, os cafés, as lojas e os restaurantes; e quando eu tive oportunidade para formar-me no Ensino Superior, 1 de cada 4 dessa geração, outros melhores do que eu tiveram de recuar.

Mas se nos bancos de escola era eu que me safava, na rua era neles que me inspirava. O Tiago jogava à bola melhor do que eu; o Roberto era melhor guarda-redes do que eu; o Tiaguinho era mais novo, mais baixo e melhor que nós todos. Quando me mudei para o Pavilhão, o Fábio era maior do que os maiores e o João Filipe sonhava ir mais longe do que qualquer sonhador do Bairro ousou sonhar - e foi.

Uns e outros descobrimos, na escola ou na rua, aquilo que gostávamos de fazer - mas nem por isso as nossas histórias são todas tão felizes como podiam ser. Sim, há uns que se safaram, mas também há uns que foram presos e há mesmo quem tenha morrido em acidentes trágicos, porque, não se iludam, é mesmo verdade que a pobreza atrai tragédias sem limites. Há também os que emigraram, os que casaram e os que tiveram filhos antes de tempo.

A minha história não é a de muitos deles - mas a história das crianças e dos jovens do Bairro da Nazaré, no Funchal, não é diferente da história das crianças e jovens do Bairro das Malvinas, em Câmara de Lobos, do Bairro da Nogueira, em Santa Cruz, de tantos outros, naquele tempo e no de agora. São histórias de vida de gente que a certa altura se fazem heróis, quais Cristianos Ronaldos da vida que, independentemente do brilho que trazem ou não consigo, fintam o destino para conseguirem coisas que outros antes de si não conseguiram: um prato de comida na mesa todos os dias, uma família estável para abraçar, um carro para passear.

Aprendi o essencial da vida com esta gente: as dificuldades e o poder dos sonhos. O Bairro ensinou-me a ser combativo, tantas vezes demasiado, mas fez de mim, acima de tudo, mais humano. Nada do que aprendi ali, aprenderia de outra forma. Desde que, em 2015 e em cima das eleições regionais, passei a escrever aqui, escrevi muitos disparates. Também fiz alguns. De todos eles, tenho a certeza de dois que não cometi: ter regressado à Madeira em 2017; e tê-lo feito pelo direito a sonhar.

Pelo direito que todos têm, que os outros têm, a sonhar que é possível uma vida diferente. Que é possível uma Madeira diferente, onde ao fim de 43 anos a nenhuma geração falte Saúde para sobreviver, uma Habitação digna para viver, Educação plena para crescer e um bom Emprego para exercer. Não nos enganem, não se enganem: temos muito, mas conseguíamos melhor. Conseguimos mais. Não nos vendam a ilusão do paraíso em que não vivemos, porque ele não chegou e a nossa Região não é nem metade do que podia ser. Não o digam a um povo que podia viver melhor, se não continuasse a ver os filhos e netos a emigrar em massa, a matar o Norte, a abandonar o Porto Santo, ou a esquecer como é bom viver aqui. Não digam isso à geração mais qualificada que não volta, ou à desgraçada que, de tão desgraçada que se sente, já não vota.

Voltei à Madeira e à Nazaré pelo direito a sonhar que é possível uma Madeira diferente - e acredito convictamente que a Madeira precisa mesmo de mudar para um tempo novo. 43 anos de qualquer coisa, em democracia, é tempo demais. Do que as pessoas precisam, é de um Presidente presente, verdadeiramente próximo das pessoas, que conheça as suas dificuldades e que as reconheça, que saiba verdadeiramente o que são e que queira saber o que sentem. Antes de o conhecer melhor e de trabalhar com ele, tinha confiança no Paulo Cafôfo; hoje, tenho a certeza que é o Homem de que a Madeira precisa. Por ser melhor do que eu, melhor do que muitos de nós. Por ser um Homem Bom. Neste dia 22 de Setembro, o Paulo Cafôfo merece o nosso voto - e não é nem por ele, nem pelo PS; é por nós. Pelo nosso Futuro. Pela nossa terra. Pelos vossos filhos e netos. Pelo amanhã. Pelo direito a sonhar, a tornar o impossível em possível. Para fazer o que ainda não foi feito. Para podermos nascer, crescer, viver e morrer na nossa terra, sejamos ricos ou pobres. Pela Coragem para Sonhar. Pela Coragem para Mudar.