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Arquivo Nacional do Som quer conhecer e registar fonogramas de coleções privadas

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A equipa instaladora do Arquivo Nacional do Som vai lançar um inquérito ‘online’, destinado principalmente aos colecionadores privados, para registarem os seus documentos sonoros, seja um disco muito antigo ou uma gravação em cassete de um espetáculo ao vivo.

O anúncio foi feito pelo etnomusicólogo, responsável pela equipa que está a preparar a criação e instalação do Arquivo Nacional do Som (ANS), cujo plano estratégico foi apresentado hoje, no Teatro Nacional São Carlos, em Lisboa.

Este futuro arquivo destina-se a arquivar, preservar e disponibilizar -- nomeadamente para investigação -- o património fonográfico português, recorrendo aos arquivos dispersos existentes, como é o caso do da RTP ou de museus como o da Etnologia ou do Fado, mas também a outras entidades públicas ou privadas que detenham registos áudios, passíveis de serem registados e guardados.

Criada em fevereiro deste ano e com trabalho iniciado em março, a equipa já cumpriu “a sua primeira grande tarefa, que é uma análise crítica da informação, do estado do saber relativo aos arquivos do som”, como seja a sua descrição, catalogação, ou depósito, disse Pedro Félix à Lusa.

“Agora vamos começar uma segunda fase que é um inquérito, uma espécie de recenseamento de instituições e acervos ligados ao património sonoro e a documentos sonoros que existam em Portugal, sejam estruturas públicas ou privadas, sejam coleções individuais ou coletivas, para conhecermos a dimensão e as características e o estado em que se encontram e as condições de acesso aos documentos de som existentes”, explicou.

De acordo com o responsável, já foi feito um primeiro inventário das instituições e já foram ultrapassadas as 250, nas quais se julga existirem documentos sonoros, suportes de registos de som, mas também vai ser disponibilizado ‘online’ um formulário para qualquer instituição que não esteja até agora mapeada, e “isto basicamente destina-se aos colecionadores privados”.

“O nosso objetivo é a criação de um formulário para preenchimento ‘online’ para as pessoas elas próprias registarem a sua coleção, descrevendo-a sucintamente para nós termos conhecimento da sua existência”, disse à Lusa.

Por fim, uma terceira fase deste processo será a produção do dossier técnico que sustentará as decisões relativas à instituição, à criação e ao estabelecimento da estrutura arquivística, acrescentou.

Questionado sobre a possível dimensão do património fonográfico disperso, Pedro Félix revelou que está já identificada cerca de uma dezena de coleções “muito grandes”, que estão já sinalizadas, e que foram levadas ao conhecimento dos especialistas pelos próprios colecionadores privados, com os quais a equipa irá agora trabalhar.

Contudo, dar uma ideia ainda que aproximada do número total de documentos áudio existentes é “difícil”, porque o objetivo do arquivo não reside apenas nos fonogramas comerciais, editados.

“Temos como objetivo também fonogramas não editados, ou seja uma pessoa que gravou uma noite em que um cantor se apresentou numa casa de fados nos anos 70, numa cassete das antigas, isso é um documento que nos interessa. Não temos de facto uma noção dessas existências”, explicou.

Depois há as instituições e os laboratórios de investigação que têm documentos sonoros -- “alguns que nem nos lembramos porque pensamos no som como música” -, como por exemplo: ornitologia, etologia, centros de geografia que têm registos do som de terramotos, de vulcões ou de animais, e entrevistas etnográficas.

“São tudo documentos sonoros que nos interessa identificar e registar e ajudar depois as instituições a potenciar o seu acervo”, acrescentou.

No que respeita às prioridades no tratamento dos documentos áudio, Pedro Félix afirmou que um dos objetivos do próprio inquérito é “identificar situações de emergência”, o que vai permitir “intervir na estabilização dessas mesmas coleções, físicas, e, numa segunda fase, a sua própria digitalização”.

“Estamos preparados para situações em que seja necessário intervir muito rapidamente, procedermos imediatamente a cópias digitais desses materiais. Estamos à espera que existam situações dessas e estamos preparados”, garantiu, referindo que, “em teoria, suportes de som únicos, com registos únicos são os que têm maior prioridade”, e que os “registos comerciais estão num segundo patamar de urgência”.

Pedro Félix apontou também o caso das gravações anteriores a 1960: “Muitas das gravações comerciais tornaram-se elas próprias ‘masters’, ou seja, peças únicas, porque entretanto já se perdeu o ‘master’ usado para a produção do disco”.

“Portanto, ter um disco comercial pode ser quase equivalente ou ser o equivalente a ter um ‘master’, um original”, acrescentou.

A equipa do arquivo sonoro liderada pelo etnomusicólogo Pedro Félix, foi criada em fevereiro deste ano e está a trabalhar desde março neste projeto, com a dupla participação da Ciência e da Cultura.

Posteriormente foi constituído o Conselho Consultivo, cuja estrutura - publicada em julho em Diário da República - compreende etnomusicólogo António Tilly, o responsável da Área de Conteúdos Rádio da Subdireção de Arquivo da RTP Eduardo Leite, o musicólogo Paulo Ferreira de Castro, a investigadora e diretora do Museu do Fado Sara Pereira e a professora catedrática de Etnomusicologia Salwa Castelo-Branco.