Artigos

“Show off...”

Há quem viva para o “show off” e em função do que os outros possam pensar.

Alguns julgam-se os atores principais no jogo da vida. Na família, no emprego, no grupo de amigos, nas redes socias e por aí fora. No limite, o mundo acaba por ser pequeno demais para tanto ego. Contudo, se alguns têm mérito e gostam de o propalar (o que é perfeitamente legítimo), a maior parte são uns frustrados e ressabiados que vivem permanentemente preocupados em agradar às “pessoas certas”, dando permanentemente ares daquilo que não são. Não se inibem de cumprimentar com o chapéu alheio, de aparecer sem serem convidados em eventos sociais e profissionais, de se colarem a alguém que pretensamente conhecem e de tirarem umas selfies para colocar a circular e assim criar a ilusão que têm excelentes relacionamentos e se movimentam em determinados círculos...

Normalmente têm um discurso fluente, mas inconsequente. Defendem aquilo que julgam que os interlocutores do momento querem ouvir. Agarram-se a ideias e têm propostas que aparentemente são inovadoras e com resultados garantidos, alegando que estão validadas em países tidos por desenvolvidos e por instituições de reconhecido mérito nacional e internacional. Porém, na maior parte das vezes, bem espremidos, não passam de uns vendedores da banha da cobra que julgam que os outros são uns tontos.

Escolhem criteriosamente os locais onde podem encontrar as “suas presas”. O ginásio, o restaurante, o café, a praia, os eventos sociais e desportivos, ... São persistentes, por vezes, tipo “lapa” e têm uma “lata” desmedida. Insinuam-se e oferecem-se para ocupar certas vagas e cargos. Até chegam a casar por mero interesse estratégico, de modo a entrar no meio...

Embora possa existir alguma prevalência em certos “grupos”, basicamente há destes exemplares, em ambos os sexos, nas diferentes profissões e estratos sociais, em todas as cores políticas ou clubísticas, etc.

Apesar de alguns (poucos) conseguirem enganar toda a gente durante muito tempo, a maior parte, mais cedo ou mais tarde, acaba por ser identificada ou mesmo desmascarada, não só pelas atitudes que têm mas, fundamentalmente, quando têm que efetivamente produzir ...

Por vezes, ainda surpreende como é que, com o passado que alguns possuem, continuam a ter palco e a ser “requisitados”. Uma análise mais pormenorizada normalmente leva-nos à conclusão de que quem lhes dá a mão são outros iguais a eles ou alguém que julga que os pode utilizar.

No mundo do desporto profissional, entre tantas outras áreas com fortes interesses económico-financeiros, proliferam exemplos do que acabamos de dizer. Experimente fazer este simples exercício: pense em jogadores, treinadores, dirigentes, empresários de jogadores que não percebe como é que depois do que têm feito (ou do que não conseguiram fazer) ainda lhes continuam a dar o relevo que dão. Certamente que em dois ou três minutos conseguiu identificar uma dúzia de casos. Se fizer o mesmo exercício noutras áreas profissionais e no seu círculo de relações (diretas e indiretas) verá que também conseguirá identificar potenciais candidatos.

Sim, potenciais candidatos, pois é importante que tenhamos a consciência que não basta a nossa perceção para colocar rótulos nas pessoas. Talvez uma boa forma de confirmarmos essa perceção seja partilhá-la (de forma mais ou menos explicita, consoante a confiança que se tenha) com quem também já se tenha relacionado (pessoal ou profissionalmente) com elas. Verá que em boa parte dos casos a reação será logo um largo sorriso e um comentário do tipo “esse artista/essa artista...” (para ser simpático).

Contudo, o objetivo não pode ser segregar essas pessoas. Elas têm capacidades e competências que podem e devem ser utilizadas de forma mais produtiva e adequada. Essa “conversão” será possível se não deixarmos que o “show off” se sobreponha ao mérito... Ora, isso depende de cada um de nós.