As jaulas no mar da Calheta

Após a quotidiana leitura matinal do DN, não me contive sem expressar o que me vai na alma, sobre o que está a suceder na “terra mai linda do mundo”, como finalizei o meu último artigo de opinião do passado dia 24, dia do concelho da Calheta. Neste dia, em que ainda ecoavam os sons da animação, dos aplausos e do fogo de artifício, não achei apropriado disparar o canhangulo que seria este tema. E continuo a achar que fiz bem. Mas agora, depois de ler a última página do DN de hoje, de ficar a saber ainda mais sobre os silêncios irresponsáveis dos responsáveis, das revoltas expressas e contidas de muitos calhetenses, quero, publicamente, juntar a minha voz.

Vamos aos factos! No passado dia 9, postei no meu Facebook (Vieira da Calheta), uma foto da paisagem (terra e mar) do Arco da Calheta, com um alerta de que se estaria em “fase de obras” junto às jaulas existentes em frente à sala de visitas do concelho da Calheta: o Arco da Calheta.

No dia seguinte, no meu vespertino passeio, mais próximo do nosso mar azul, constatei que, de facto, a estrutura apresentava claras indicações de crescimento.

Li a entrevista que o meu presidente da Câmara deu ao nosso DN, no passado dia 19, no âmbito das festas do concelho, e, nas entrelinhas, percebi que algo corria mal... A respeito da expansão da piscicultura, Carlos Teles disse: “Já a dei (opinião) e espero que (o governo) me oiça”.

Pois, Sr. Presidente, aqui vai o meu contributo nesta matéria.

Se eu ou qualquer outro cidadão como eu, pretender construir um palheiro, um chiqueiro, um galinheiro, preciso dos pareceres das Direcções Regionais do Ambiente, da Paisagem, do Comércio e Indústria, do Turismo, da Pecuária, das Pescas, da ARAE, do Trabalho, Disto e Daquilo, etc, etc...

Segundo o que, hoje, veio a lume, o governo não saberá o que está a suceder. De facto, das varandas e janelas dos diversos departamentos governamentais regionais, desde a Quinta Vigia ao Jardim Botânico, está mais do que comprovado que as “gaiolas” aquáticas, na Calheta, não causam qualquer dano à paisagem, ao ambiente, ao turismo, etc... do e no Funchal.

É que, noutros locais onde vi instalada esta actividade piscícola, fiquei com a sensação de que tinha havido a preocupação de “disfarçar”, “encapotar”, “integrar”, pelo menos, numa lógica da menor agressão paisagística possível. Aqui não! É logo a meio do mar que se faz a “porcaria”, em frente à entrada do concelho, a tal sala de visitas da Calheta.

Como munícipe da Calheta, tenho consciência do muito que se perde, mas ainda não vi ninguém contrapor com os benefícios que daqui advêm para a Calheta. Receitas, postos de trabalho, atracção de novos investimentos, etc., etc.

Uma questão aos DDT (donos disto tudo):

O vosso objectivo é testar o povo manso da Calheta para criar um bardo preto no nosso mar azul, desde o Arco da Calheta até à Ponta do Pargo?

Um alerta aos meus concidadãos:

Com certeza que nos lembramos ainda de, há alguns anos, onde havia algum descontentamento, em vésperas de eleições, haver empreiteiros a depositar junto a “prometidas obras” brita, areia, ferro e até uma casota para as obras que iam arrancar a seguir ao acto eleitoral. Tudo isto, era recolhido na segunda-feira após a votação.

Tudo indica que, agora, temos uma nova versão. Por parte das entidades (ir)responsáveis só há silêncio. No dia 22 de Setembro, nós vamos VOTAR (a única arma que temos para combater os DDT). No dia 23, eles vêm BOTAR as jaulas e continuar a construir o bardo!

E, não esqueçamos que temos mais eleições em Outubro...

Concluindo e parafraseando Martin Luther King: tenho medo do silêncio dos DDT.

Manuel Vieira