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Maioria dos alemães a estudar português não conhece cultura nem história

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O leitor de português na Universidade de Göttingen, na Baixa Saxónia, Joaquim Peito considerou que a maioria dos alemães que aprende português tem “poucos conhecimentos do país e da história”.

O autor de seis manuais de português para estudantes alemães estima que cerca de 80% dos alunos que se inscrevem e que optam por aprender a língua [na Universidade de Göttingen], tem pouca informação prévia.

“Nas escolas são ensinados poucos temas ligados à história de Portugal, há um desconhecimento muito grande”, admitiu, em declarações à agência Lusa, o professor e historiador português, na Alemanha desde 1984 e leitor de português há mais de duas décadas.

Ainda assim, Joaquim Peito acredita que Portugal é agora bastante mais conhecido do que há uns anos, contribuindo para isso o turismo, e o futebol, mas também a “forma aberta” como o país se tem apresentado no estrangeiro.

“Já somos um pouco mais conhecidos. Há uns anos, para muitos alemães, Portugal era uma província de Espanha. Agora melhorou muito, já é falado, já se lê muito sobre o país, nomeadamente na imprensa. Eu tenho um arquivo e, antigamente, os artigos que saíam eram sobre escândalos, ou catástrofes ou sobre alguma região turística, mas muito pouco sobre a história portuguesa”, referiu.

O leitor de português completou os estudos em Ciências Históricas e Germânicas na Universidade de Göttingen, depois de ter concluído a licenciatura de História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Mudou-se para a Alemanha depois de ter conhecido a que viria a ser sua mulher numas férias, no Algarve. Os primeiros tempos no país não foram fáceis.

“Tive algumas dúvidas e problemas no início, mas acabei por me adaptar e aprender alemão (...) Costumo dizer aos meus alunos [do curso de Estudos Portugueses e Brasileiros] que num semestre se pode aprender português, mas para aprender alemão é preciso a vida toda”, conta, entre risos.

“Göttingen é a única universidade aqui, na Baixa Saxónia, que oferece os estudos de português na integra”, indica, explicando que tem havido um “acréscimo do número de alunos”.

“Desde que na nossa faculdade temos também o curso de mestrado, há muitos outros alunos, que começaram a aprender o português noutras instituições de ensino da Alemanha e que vêm para cá para prosseguir os estudos”, referiu Joaquim Peito, acrescentando que os motivos são vários.

“Há de tudo, alunos que durante o período escolar fizeram um voluntariado no Brasil ou noutro país de língua portuguesa, outros porque têm familiares, mas também tenho estudantes portugueses nascidos na Alemanha, muitos que já pertencem a uma terceira geração”, esclareceu o leitor de português.

Joaquim Peito é o autor com mais manuais de estudo do português na Alemanha, contando já seis livros, que contemplam dos níveis básico ao avançado. Contam também com a gravação de diálogos e textos com nativos de várias regiões de Portugal, “algo que nunca antes tinha sido feito”.

“Desde há alguns anos que o crescimento da oferta de cursos de língua portuguesa em várias instituições do ensino superior na Alemanha tem aumentado substancialmente. Embora o ensino do português como língua estrangeira seja uma disciplina relativamente recente, já tem programas de estudo muito semelhantes em termos de conteúdos, estrutura e organização”, justificou.

O professor universitário destacou um dos manuais, adotado por muitos docentes na Alemanha, com “sete capítulos dedicados à língua portuguesa, à sociedade portuguesa, como é ser jovem em Portugal, meios de comunicação, entre outros, com vários textos curtos”.

“É um manual que não existia na Alemanha”, frisou. “Quando tive a iniciativa de o fazer, havia muito poucos livros. Ultimamente já há outras editoras alemãs que têm aberto o seu mercado à língua portuguesa”, concluiu.

A coleção “Está bem! Intensivkurs Portugiesisch”, “Está bem! Übungsbuch”, “Portugiesisch Übungsgrammatik” e “Pois é! Konversationskurs Portugiesisch” foi concebida para poder ser utilizada por estudantes de português como língua estrangeira, de acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas.