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Literacia para os media deve ser disciplina obrigatória nas escolas

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A criação de uma disciplina obrigatória no ensino secundário para ensinar literacia para os media, com “o mesmo estatuto” que o Português e a Matemática, poderá contribuir para mitigar o fenómeno da desinformação, segundo dois investigadores do ISCTE.

“Só conseguimos combater a má informação ou as ‘fake news’ através de mais informação. E essa informação passa por saber ler os media e saber descodificar uma notícia”, explicou à Lusa o investigador no ISCTE Rui Brites, à margem de um debate sobre o impacto das ‘fake news’, que decorreu ontem na Casa da Imprensa, em Lisboa.

Na opinião do professor universitário, “os jovens não discutem nada da atualidade” e a “literacia não passa apenas por ensinar a ler”, mas também por “criar nos alunos o hábito de ler, interpretar e discutir”.

Por isso, “devia ser obrigatória, no currículo do ensino secundário, uma disciplina sobre literacia para os media”, para que, “quando os alunos completarem o ensino obrigatória, saiam com o hábito de consumir notícias e comentar notícias independentemente”.

“O Ministério da Educação, ao criar esta disciplina, não podia criar uma disciplina que as escolas pudessem escolher [lecionar]. Tinha de ter o mesmo estatuto [que o Português e a Matemática A]”, esclareceu.

Mas a literacia para os media não pode ser apenas para os estudantes: “É preciso formar também os professores, do básico e secundário, sobre literacia para os media, porque a maior parte [dos docentes] não a tem.”

“Se os professores não leem jornais habitualmente, como é que vão ensinar os alunos”, questiona.

Rui Brites afirmou também que “se isso não acontecer, vai ser difícil” combater a desinformação, porque apenas “as pessoas mais informadas conseguem descodificar o que são ‘fake news’”.

O investigador explicitou ainda que “uma geração mais informada” consegue “descodificar o discurso político, descodificar o que são ‘soundbites’ e o que são notícias verdadeiras”.

“Só através da informação é que podemos mudar a democracia”, finalizou.

Já o investigador do ISCTE Manuel Pereira considera mais correta a criação de uma disciplina sobre “literacia digital e não especificamente para os media”, e que prepare os jovens para os perigos a que estão expostos em plataformas como o Facebook, Instagram, Twitter ou WhatsApp.

“É não só dar ferramentas aos mais jovens para aprenderem a lidar com as redes sociais, mas também com tudo o que elas englobam [como, por exemplo, a desinformação]”, explicou.

Manuel Pereira afirmou ainda que “quanto mais ferramentas [os jovens] tiverem, melhor poderão lidar com a informação [que circula na Internet]”.

“[A literacia digital] pode constituir uma arma muito importante para lidar com a ameaça das falsas notícias que circulam pelas redes sociais”, rematou.