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E agora Mário Pereira?

Muitos me têm perguntado e até especulam, se, agora que o meu partido está no poder na Madeira, eu me sentiria incomodado com tal coligação, tendo eu, e muitos companheiros de partido, criticado as opções e a postura do PSD ao longo dos anos?

Por incrível que pareça a alguns, a resposta é bem simples e natural: Não!

Vamos por partes, respondendo a várias questões:

Porquê o PSD não continua a governar só? Porque o resultado das eleições não permite.

Porquê o CDS governa com o PSD? Os sociais-democratas venceram as eleições, apesar de em minoria de voto, e nós decidimos democraticamente no último congresso que negociaríamos, primeiro, com o partido mais votado. E a negociação chegou a um acordo.

Este é o único caminho que o CDS poderia ter percorrido? Não é, mas este é aquele que neste momento está a percorrer e é sobre esse percurso que as atenções naturalmente se colocam.

Porquê nos sentimos confortáveis com este Programa de Governo? Para responder, faço-vos um desafio: sentem-se num sofá por um par de horas e leiam com atenção os dois programas, o de 2019 e o de há 4 anos. A seguir, pergunto-vos: qual dos dois reflecte mais as ideias e as propostas do CDS? E, mais, em que áreas da governação?

Como é que o PSD mudou de opinião em vários assuntos? De duas maneiras: primeiro, uma oposição bem feita, como aquela protagonizada pelo CDS, demonstrou, mesmo antes das eleições, que o PSD precisava de mudar de ideias. Os estímulos ao uso do transporte público são bem conhecidos. Segundo, a necessidade de um compromisso fez com que ambos precisassem fazer cedências. A gestão das listas de espera é disso um bom exemplo. Umas ideias aqui, outros projectos ali. É o que se chama de negociação.

Mudei eu, ou outros, de opinião sobre questões fundamentais da Região? Quem preza a sua coerência, certamente que não! No entanto, só poderemos por em prática aquelas questões que resultarem dum acordo. É assim num casamento. É assim na política.

Este cenário de coligação é positivo para a Madeira? Respondo com uma pergunta dirigida em especial àqueles que, à esquerda, discordam do histórico do PSD: preferem verem-no a governar só, com maioria absoluta ou, em vez disso, numa coligação e em partilha de responsabilidades com outro partido, no caso o CDS?

O PSD lucrará algo com esta coligação? Bem, humildemente creio que um partido que evolui de 53% dos votos para 48%, depois para 44% e agora para 39%, certamente precisa de inovar algo. Sinto em vários dirigentes uma vontade genuína de fazer muitas coisas diferentes, algumas curiosamente em sintonia com a dita oposição. O tempo dirá se essa vontade prevalecerá.

Vivemos um momento histórico? Acredito que sim. Assisti em tempos a uma palestra em Cambridge dada por uma pessoa que muito me marcou, Stephen Hawking. Uma questão intrigou-me nesse dia: como valorizamos a distância entre o zero e o um, e o um e o dois? A mesma?

O CDS tem um importante património na área da saúde, com um pensamento estratégico e um vasto conjunto de propostas. É expectável que, depois de todo este percurso e luta política, o CDS esteja satisfeito, e bastante, pela inclusão de ideias do seu património político na acção governativa da saúde regional.

O sucesso depende de 3 objectivos, só aparentemente vagos, mas para quem conhece bem o sector, reconhece neles certamente mudanças profundas:

Primeiro, mudar o paradigma da gestão clínica, focando a atenção dos clínicos na ciência, na autocrítica clínica e na motivação para o trabalho, sendo todos tratados sem assimetrias injustificáveis.

Depois, aceitar que o Poder não é, em si, um objectivo, mas um instrumento para melhorar uma instituição importantíssima para os madeirenses como é o SESARAM.

Finalmente, mestria em equilibrar o financiamento duma saúde deficitária em produtividade e o acesso a cuidados de saúde, com a sustentabilidade de um sector que não pode levar os problemas actuais para dentro das paredes do futuro hospital da Madeira.

Pode correr mal esta experiência? Pode, certamente, mas creio que tal não é provável. Revejo-me numa dualidade de Inovação e Risco, compreendendo que, quando se inova, correm-se riscos naturais, mas que são devidamente justificados.

Se a coligação e o compromisso resultarem, teremos uma região mais forte, inclusa e preparada para o futuro. Se falhar, indicará que outros tipos de mudanças serão necessários. Trabalhemos todos para que resulte, respeitando constantemente a diversidade de opiniões.

Eu espero ajudar, com a minha opinião e participação empenhada. Sempre e onde entenda necessária ou desejada.