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O último dos sonhadores

Freitas do Amaral não chegou a presidente da República por muito pouco no final dos anos 80

Quando nasci faltavam 48 horas para o 25 de Abril de 74, por isso posso dizer que recebi a democracia de bandeja, foi-me oferecida sem esforço. Não é por isso que não a valorizo, pois sei que o Portugal amordaçado e preso a uma ditadura política nos rendeu anos de atraso económico e cultural.

A morte de Freitas do Amaral leva consigo um dos fundadores da democracia portuguesa, a par com Sá Carneiro, Álvaro Cunhal e Mário Soares. Estes quatro homens ganharam seguidores e inimigos, alcançaram sonhos e sofreram derrotas, mas são todos de uma geração fundadora da democracia.

De quadrantes políticos bem diversos, fizeram parte de uma geração que fez acordar os portugueses para a política, para vida democrática e para a defesa de causas nacionais, como a igualdade, o direito ao Trabalho, Educação ou Saúde.

Freitas do Amaral não chegou a Presidente da República por muito pouco no final dos anos 80, mas teve uma vida pública pautada pela defesa de valores em que acreditou e pelos quais se bateu.

Hoje, num tempo de deslumbramento tecnológico e em que tudo parece fácil, pode ficar difícil para alguns, saberem o quanto custou a liberdade de que hoje disfrutamos.

Não tenho por hábito pensar que no passado é que as coisas eram boas, mas dava tudo para ter de volta na política homens que lutaram e levaram avante (uns mais do que outros) os sonhos que tinham para o seu país. Antes homens assim do que – com exceções, claro - os políticos de plástico que hoje pairam na democracia portuguesa.