Esta vontade louca de engolir o Mundo
Quando as regras são justas a competitividade anda de braço dado com a meritocracia e isso obriga-nos naturalmente a querer ser melhores
No meio de algumas razões para criticarmos a globalização e a evolução do Mundo, existem umas quantas que nos fazem agradecer por tudo o que nos tem proporcionado. E se este novo paradigma veio alterar alguns conceitos há muito consolidados na sociedade como o “emprego para a vida” também nos trouxe a facilidade de conhecermos outros Países, viajarmos sem termos que ser ricos e termos acesso a novos mercados e a diferentes culturas sem nos cingirmos a um determinado espaço quando as oportunidades se tornam escassas. Quando as regras são justas a competitividade anda de braço dado com a meritocracia e isso obriga-nos naturalmente a querer ser melhores.
A minha geração disso não se pode queixar. Era eu uma criança mas recordo-me perfeitamente de quando os meus Pais viajavam. Era todo um acontecimento. E traziam sempre de lá alguma coisa, uma recordação desse qualquer sítio longínquo e distante. Ou quando a minha Avó e a minha Tia foram dar aulas para Macau e que quando regressavam de férias tinham uma claque há espera delas no aeroporto como se tivessem regressado duma viagem a Marte. Contávamos os dias para a sua chegada e todo o processo desde a saída de casa até às horas de espera no aeroporto eram uma absoluta excitação. Primos, tios, pais, irmãos. Tudo em caravana para receber essas “viajantes do Tempo” que nos deixavam terríveis saudades. E lá corríamos nós quando aquelas portas se abriam , rampa acima para as abraçar.
Nós portugueses, sempre tivemos esse ímpeto de viajantes e aventureiros e os descobrimentos são bem o reflexo disso mesmo. Hoje em dia, felizmente as coisas são bem diferentes. Talvez se tenha perdido alguma emoção mas permitiu-nos conhecer mais, abrir horizontes e crescer com os outros. Eu que já vivi em Fátima, Lisboa, Rio de Janeiro e Maputo sou um bom exemplo disso mesmo. Talvez não tenha tido nada melhor na vida que a experiência de andar por aí, de me “fazer à vida”, de procurar novos caminhos. A interação com outras pessoas, diferentes religiões, provar e sentir sabores distintos, ou formas antagónicas de estar tornou-me mais completo e também por isso estou em crer, mais preparado.
Esta nova experiência na maravilhosa Baía de Machico é diferente porque vou andar “lá e cá” e estou a pouco mais de uma hora de distância de casa mas não deixa de ser especial. Porque permite-me mais uma vez sair da minha zona de conforto e fazer o que mais gosto, conhecer novas pessoas, partilhar, dar e receber, crescer ainda por cima à frente do Mar! E se sinto que carrego no corpo cada um dos sítios onde criei raízes e se sou por inerência um pouco fatimense, lisboeta, carioca e maputense passo a ser com orgulho machiqueiro também. Acho que desde que ouvi os Da Vinci a cantar os “Conquistadores” que soube ser esse o meu destino. E não é que me sinto um privilegiado ?
Agora percebo o meu fascínio em decorar bandeiras e capitais de países quando andava na escola. Não devemos contrariar os nossos desígnios. Porque quer queiramos ou não nós pertencemos onde nos faz sentido, onde nos querem e temos algo para acrescentar. Onde nos sentimos bem. Só assim se explica esta minha vontade louca de engolir o Mundo e de conhecer cada cantinho.
“Não sou ateniense nem grego. Sou um cidadão do Mundo”
(Sócrates ) O verdadeiro...!