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Portugal a envelhecer rapidamente e o endividamento das famílias a aumentar

O que eu tinha referido, por mais de uma vez, nesta coluna de opinião, veio a tornar-se notícia nos meios de comunicação no final do mês passado e, por isso, volto ao assunto. O envelhecimento que se está a verificar em Portugal deve ser encarado de forma muito séria, encontrando soluções que sejam implementadas no presente de modo a garantirmos que no futuro todos os idosos tenham uma boa qualidade de vida, o que, infelizmente, não me parece acontecer no momento presente.

A notícia que apareceu referia que cada vez são mais os casos de famílias que aparecem a pedir ajuda ao gabinete de apoio ao sobreendividado da DECO por não conseguirem suportar os custos com os lares. Assim, para 5% das famílias que pediram ajuda, a principal causa do sobre-endividamento foi o apoio a ascendentes. Se juntarmos a estes 5%, os 4% das famílias que apontam a passagem à reforma como principal causa de sobre-endividamente percebemos que um facto tão natural como o envelhecer justifica quase 10% dos casos das famílias enfrentam muitos problemas em termos financeiros.

Acredito que estes 10% são apenas uma ponta do iceberg pois, à medida que a sociedade for envelhecendo, mais idosos irão chegar ao fim das suas poupanças de uma vida, resultado de todos os meses gastarem muito mais do que recebem como rendimento. Os filhos e filhas terão, se puderem, que ajudá-los diminuindo as poupanças com que ficarão para o futuro enfrentarem uma situação semelhante à actual dos pais de terem gastos muito mais elevados do que os rendimentos, com tendência a essa diferença aumentar devido às novas regras de cálculo das reformas e o aumento dos custos com os cuidados de saúde.

Muito há a fazer, mas penso que não deve ser difícil começarmos por ter uma plataforma dirigida aos idosos e suas famílias onde estivesse acessível toda a informação sobre os direitos e apoios a que têm direito por parte do Estado. Numa segunda fase essa plataforma devia conter toda a informação sobre as instituições públicas e privadas na área da geriatria para facilmente as famílias poderem decidir o que é melhor para elas.

No presente até a definição do agregado familiar do idoso me parece confusa porque se é para o idoso não ter apoios contam todos os rendimentos do agregado, se é para o agregado pagar menos impostos então já não conta o idoso no agregado. Isto para não falar de apoios que o idoso recebe devido à sua condição de dependência, mas que ao recebê-los perde outros tendo a família que fazer contas se é benéfico pedir certos apoios ao Estado.

Felizmente vivemos mais tempo, mas infelizmente alguns vão viver grande parte desse tempo com a saúde muito afetada (ou em termos financeiros, a gastarem muito mais do que recebem), por isso urge nos prepararmos para o futuro que me parece mais que certo.