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Eleições partidárias

De forma muito sumária e grosseira, as ideias políticas mais clássicas que se constituíram como ideologias de referência (para além do nacionalismo que suporta – e decorre da – construção do Estado moderno), começaram por ser, de um lado, o liberalismo e, do outro, o socialismo (que nalguns casos derivou, rapidamente, em colectivismo).

Numa postura de distanciamento e equidistância entre aquelas, que tinham como pressupostos determinantes, a primeira, a Liberdade e, a segunda, a Igualdade, surge, muito influenciada pela Doutrina Social da Igreja, uma outra perspectiva, que define a Dignidade da Pessoa Humana como o cerne das preocupações.

É aqui, mas também, segundo outros, nalguns pressupostos marxistas (não leninistas) que a Social Democracia vem beber os seus fundamentos e a sua visão do Homem, da Sociedade e a sua praxis política.

Entretanto, lógicas derivadas, como o nacional-socialismo, o fascismo (nas suas várias formas) e o justicialismo Peronista (que nasce e influenciou muito a América do Sul), foram também aparecendo, sendo, enquanto sucedâneo desta última, muito conhecidos os movimentos populistas de características sebastianistas (com alguns laivos de revanchismo, em especial para com certos estratos socais), cujo paradigma, no pior sentido, é identificado como sendo o “quase messiânico” de Hugo Chavez (e que deu origem ao do “hijo passarito” Maduro).

Mas a propósito de quê tudo isto ? Precisamente enquanto suporte da análise às últimas eleições de dois partidos referência da democracia, uma de cariz nacional, no PSD, e outra de âmbito regional, no PS.

E o interessante e que justifica, agora, o acima expresso, é que se assistiu, por opção dos respectivos militantes, à afirmação de lideranças totalmente distintas nestes dois partidos.

Uma, no PSD nacional, de recolocação do partido na esfera mais ao centro dos quadros ideológicos mais gerais e de referência, neste caso na social democracia.

Outra, no PS regional, exatamente oposta, de distanciamento do partido relativamente ao centro e de deriva para um plano que se aproxima dos movimentos de cariz sul-americano citados, neste particular com o “seu sebastião” envolvido num nevoeiro que se afiança ser de origem colonial, pois, segundo os que o enfrentaram, Lisboa terá sido madrinha.

Nestes contextos, aguardemos pelo que os eleitorados nacional e regional entendem destas opções, sendo, no caso nacional, interessante perceber o que vai agora fazer o eleitorado do apelidado “centrão” perante este reposicionamento do PSD ... atenta a opção do PS dos últimos anos, de aproximação à esquerda mais colectivista do PCP e de fractura do BE.

Já quanto à Madeira e mais do que, como referia Ricardo Vieira quando abandonou o Parlamento, uma opção entre o que apelidou de uma eventual AD regional e de uma eventual “geringonça” regional, o que o resultado eleitoral no PS nos parece trazer é, fundamentalmente, uma clivagem entre dois outros tipos de blocos.

De um lado, institucionalistas e autonomistas (do PSD, e de alas do CDS, mas também do PS social-democrata ora vencido internamente) e do outro, não institucionalistas (como o comprovam os contornos de movimento populisto-sebastianista da linha vencedora nos socialistas) e anti-autonomistas (considerada a indicação que perpassa de que tudo foi telecomandado a partir da capital), a que se associarão, eventualmente, o movimento da JPP (a dúvida decorre de artigo escrito por Nelson Veríssimo) e a esquerda bloquista (visto estar em luta interna e que promete...).

O tempo dirá, mas, confesso, julgo que muitos realinhamentos serão efectuados nos eleitorados nacional e regional, e que o que foi verdade, até aos dias 13 e 19 de Janeiro passado, deixou de o ser. Dito isto, só não é ainda evidente qual a percepção que o eleitorado terá dos processos em causa e a leitura que fará da consistência respectiva até ao momento da verdade: o do voto em 2019, em que já se conhecerão as Visões, as Estratégias, e, fundamentalmente, porque ninguém faz nada sozinho, as Equipas capazes de lutar por elas e de as concretizar.