Turismo

Esta é a noite das estrelas Michelin

Madeirenses Il Gallo d’Oro e William esperam manter as distinções

Lisboa é hoje o palco da gastronomia ibérica, acolhendo, pela primeira vez, o anúncio da edição do próximo ano do Guia Michelin Espanha e Portugal, com os restaurantes lusos a esperar "um crescimento", segundo a organização.

A Michelin ibérica já adiantou que serão entregues "mais de 20" primeiras estrelas a outros tantos restaurantes espanhóis e portugueses, e em locais "que não são polos de população muito importantes", disse o diretor de comunicação da empresa, Ángel Pardo, citado pela agência espanhola Efe, a propósito das novidades do guia, considerado uma referência mundial na qualificação da restauração.

Para Portugal, será "um ano de crescimento", o que é "importante, porque não há estagnação", referiu Pardo, que indicou que "crescerá Lisboa, mas também há algumas localidades que atraíram a atenção" dos inspetores.

Em declarações à Lusa, o responsável afirmou que 2019 trará "novidades importantes" para os dois países.

Actualmente, Portugal tem cinco restaurantes com duas estrelas ('uma cozinha excecional, vale a pena o desvio'), entre os quais pontifica o Il Gallo d’Oro, no hotel madeirense  The Cliff Bay e 18 com uma estrela ('cozinha de grande fineza, compensa parar'), com destque para o também madeirense William no hotel Reid’s Palace. Espanha tem 11 restaurantes com a classificação máxima de três estrelas, dos quais dois novos em 2018 ('uma cozinha única, justifica a viagem'), 25 com duas estrelas (cinco novos na edição atual) e 159 com uma estrela (17 novos).

Especialistas em gastronomia divididos

A poucas  horas da apresentação do Guia Michelin ibérico de 2019, em Lisboa, especialistas em gastronomia fazem as suas 'apostas': uns acreditam que Portugal alcançará as três estrelas pela primeira vez, outros consideram a hipótese difícil.

"Gostaria de ver Portugal a estrear-se no 'Olimpo dos 'Chefs'", comentou à Lusa o colecionador de guias Michelin Antonio Cancela, apontando dois candidatos "mais fortes" para alcançar a classificação máxima: os restaurantes Belcanto (Lisboa, 'chef' José Avillez) e Ocean (Armação de Pêra, Hans Neuner).

"A cozinha portuguesa tem tido, há vários anos, uma melhoria, e isso reflete-se no número de estrelas Michelin obtidas nos últimos três anos [uma estrela para nove restaurantes e duas estrelas para dois estabelecimentos]. Tem espaço para continuar a crescer, e isso iremos ver, com toda a certeza, refletido no Guia Michelin de 2019", comentou o espanhol António Cancela, que, juntamente com o seu irmão gémeo Juan, detém uma das duas únicas coleções integrais dos guias Michelin.

Cancela acredita que Portugal pode conquistar, na edição do próximo ano, entre uma e quatro novas primeiras estrelas e "um ou dois" restaurantes podem subir à segunda estrela.

O especialista em gastronomia Duarte Calvão, um dos autores do blogue Mesa Marcada, também está otimista quanto à possibilidade de Portugal conquistar, na próxima edição, três estrelas para dois restaurantes.

"O 'Vila Joya' tem mais possibilidades e por vezes a Michelin gosta de premiar a consistência, algo que a cozinha de Dieter Koschina sem dúvida tem. (...) Mas, evidentemente, os grandes favoritos são o Belcanto e o Ocean. Acho que tanto José Avillez quanto Hans Neuner merecem a distinção máxima e que não faria sentido um ser tri-estrelado e o outro não", escreveu o também diretor do festival gastronómico "Peixe em Lisboa", num artigo publicado no seu blogue.

Quanto a possíveis novos duas estrelas, Duarte Calvão aposta no Alma (Lisboa), do 'chef' Henrique Sá Pessoa, que conquistou a primeira estrela em 2017.

O especialista reconhece que é "relativamente recente a conquista da primeira", mas considera que "é o tipo de restaurante e de cozinha que os inspetores [da Michelin] apreciam". Aponta ainda que a atribuição da segunda estrela ao restaurante Feitoria, de João Rodrigues (Lisboa), permitiria corrigir "uma 'injustiça'".

Quanto aos espaços que, no próximo ano, poderão entrar para o guia, Duarte Calvão comenta que alguns 'chefs' estarão, na próxima quarta-feira, na gala de apresentação do guia de 2019, na capital portuguesa, como um indicador de que os seus restaurantes poderão ser contemplados. Um deles é Pedro Almeida, do Midori (Sintra), para quem "a estrela é mais do que merecida", significando que "seria a primeira cozinha de influência oriental a receber uma estrela em Portugal".

Outros espaços apontados como favoritos são a G Pousada (Bragança, 'chef' Óscar Geadas) e A Cozinha (Guimarães, António Loureiro), opinião corroborada pelo crítico de gastronomia Fortunato da Câmara, que refere aquelas cidades como "novos destinos gastronómicos a entrar no firmamento da publicação francesa".

O crítico do semanário Expresso afirmou à Lusa que 2018 foi "um ano complicado" para a Michelin, com várias mudanças internas, incluindo a passagem à reforma do chefe dos inspetores do guia ibérico, o galego José Benito-Lamas, substituído pelo catalão José Vallés.

Razão pela qual Fortunato da Câmara vê como "diminuta" a possibilidade de atribuição da distinção máxima a um restaurante português.

Chefs vão brilhar esta noite

Na edição do próximo ano do guia ibérico é esperada a saída do restaurante com três estrelas Sant Pau (Barcelona), da chef Carme Ruscalleda, que fechou em outubro, mas o responsável de comunicação da Michelin também adiantou à Efe que haverá outras perdas de estrelas, quer por encerramento dos restaurantes, quer nos casos em que os inspetores consideraram que houve uma perda de qualidade.

Também nos Bib Gourmand (que distinguem restaurantes com uma boa relação qualidade/preço inferior a 35 euros) haverá um crescimento "muito notório", tratando-se de uma "categoria com um protagonismo muito importante".

A cerimónia desta noite, no Pavilhão Carlos Lopes, marca a 10.ª gala de apresentação do guia ibérico, que foi realizada pela primeira vez em 2009 para apresentar a edição do ano seguinte, marcando o centenário da sua publicação, e que, até hoje, decorreu sempre em cidades espanholas.

Durante a festa, com cerca de 500 convidados, entre 'chefs', representantes institucionais e empresários, além de mais de cem jornalistas, sete restaurantes com estrelas Michelin da zona de Lisboa vão garantir o jantar, com cada espaço a oferecer três pratos e uma sobremesa.

A equipa de 'chefs' é composta por José Avillez (Belcanto, duas estrelas), Henrique Sá Pessoa (Alma), Joachim Koerper (Eleven), João Rodrigues (Feitoria), Gil Fernandes - em substituição de Miguel Rocha Vieira, que saiu recentemente (Fortaleza do Guincho), Sergi Arola (LAB by Sergi Arola) e Alexandre Silva (Loco), todos com uma estrela.

A organização da gala em Lisboa resulta de uma candidatura conjunta do Turismo de Portugal, Câmara de Lisboa e Associação de Turismo de Lisboa e está orçada, segundo o Governo, em mais de 400 mil euros.