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Envelhecer sozinho é terrível

A idade não significa homogeneidade de corpo, saúde, mentalidade ou espírito

O isolamento social afeta negativamente a nossa saúde, em especial se formos idosos. A nível mundial, verificamos que as pessoas com mais de 70 anos - cada vez em maior número - são atormentadas por uma verdadeira epidemia com efeitos negativos: a solidão. A solidão traz aos nossos idosos um sentimento de inutilidade, de fardo que, invariavelmente, culmina numa maior tendência para adoecer e numa morte precoce.

Ter mais idade não significa ser inútil. O idoso tem as suas próprias capacidades e necessidades: ao isolá-lo, apenas contribuímos para o tornar frágil e doente. As pessoas nascidas na época da explosão demográfica estão a cerca de duas décadas da terceira idade. Outrora, este fator seria um motivo de regozijo, mas hoje é causador de crescente preocupação. Esta apreensão advém, essencialmente, da associação ao isolamento social, da ausência de um envelhecimento saudável e de uma segurança financeira, culminando, frequentemente, em maus tratos - já que a decadência de valores é outro flagelo galopante nas sociedades atuais.

Muitas vezes, a acompanhar uma solidão prolongada há uma série de doenças mentais e físicas, demências, como doença de Alzheimer e outras perturbações que levam à depressão e, muitas vezes, ao suicídio. Com base em dados recentes, somos o 7º país mais envelhecido do mundo e 40% dos portugueses com mais de 65 anos passam oito ou mais horas por dia sozinhos. Temos, segundo o Instituto Nacional de Estatística, 321 mil idosos completamente desprotegidos durante largas horas diariamente.

Os idosos cronicamente isolados desenvolvem depressão. Porquê? Todos sabemos que quando as pessoas estão tristes, deprimidas têm muito menos energia, menos interesse em manter relacionamentos, portanto, há uma tendência real para se isolarem. Os idosos, frequentemente, fecham-se quando os seus cônjuges, amigos ou parentes próximos morrem ou ficam doentes, ou quando as crianças, a alegria dos lares, crescem e passam menos tempo em família. A reforma é também um fator de isolamento, pela diminuição da rede de apoio e do papel social que o indivíduo desempenhava.

Outros locais onde observamos alterações sociológicas graves são os lares. Não em todos os lares. O problema adensa-se quando não está definido ou quando não existe um programa de adaptação. Assim, em admissões prolongadas ou definitivas, os idosos cansados e que recebem poucas visitas dos familiares podem enclausurar-se, apenas pelo facto de as restantes pessoas com quem residem terem mais visitas dos seus entes queridos. Então, quer por vergonha, quer por ausência de oportunidades para conversar, deixam de ter estímulos e tornam-se “mudos”. A triste realidade, apresentada em múltiplos estudos de geriatria e gerontologia, é que mais de 40% das pessoas em admissão definitiva em lares não recebem visitas.

Há uma grande variedade de perspetivas sobre os idosos e o seu isolamento, embora nem todas sejam verdadeiras. Alguns podem precisar de uma interação social mais dinâmica enquanto outros preferem desfrutar do seu tempo sozinhos, em leitura e reflexão. Se ter saúde significa bem-estar físico, mental e social, a palavra “ativo” veio contribuir para um enorme progresso na forma dinâmica como encaramos os nossos idosos. Assim, as pessoas devem ser estimuladas a poderem ter oportunidades para se manterem num contexto de interdependência, complementaridade e solidariedade entre todas as gerações.

Finalmente, gostaria de deixar ficar uma ideia importante: as pessoas mais velhas são muito diferentes entre si. A idade não significa homogeneidade de corpo, saúde, mentalidade ou espírito. Assim, é preciso não esquecer que cada um tem direito à sua individualidade, ao respeito e à consideração pela sua vontade, podendo e devendo ser sempre considerado como uma fonte de apoio e de conhecimento na obtenção de uma melhor sociedade.