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Governo preocupado com reciclagem, mas dá prioridade à reutilização

FOTO Shutterstock
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O ministro do Ambiente admitiu hoje estar preocupado com a estagnação registada na taxa de reciclagem, mas salientou que, na gestão de resíduos, a prioridade é a valorização, pois “o mais importante é reutilizar”.

“Sabemos que estamos a cerca de 10% das metas que temos de atingir e, portanto, aumentar em 6% as metas de reciclagem é muito, mas somos os primeiros a reconhecer [que] o facto da taxa de reciclagem não ter aumentado de 2016 para 2017 nos causa uma grande preocupação”, disse João Matos Fernandes.

O governante respondia a questões dos jornalistas, à margem da sessão de balanço do Programa Nacional de Investimentos 2030, nas áreas de Ambiente e Energia, que decorreu em Lisboa.

“Sabemos porquê, porque estes investimentos que vão aumentar em 6% a taxa de reciclagem estavam mais atrasados”, acrescentou.

A Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero, alertou hoje que Portugal já gastou dois terços das verbas comunitárias disponíveis até 2020 para a área dos resíduos e apenas conseguirá mais 6% de reciclagem e fala de “más opções políticas nos investimentos públicos”.

Nas contas da associação, com base na análise de dados disponibilizados pela Autoridade de Gestão do Programa Operacional para a Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR), Portugal já alocou dois terços das verbas, 206 milhões, conseguindo “que o volume estimado de resíduos encaminhados para reciclagem seja de apenas mais 218 mil toneladas/ano, o que equivale a 6% do total dos recicláveis presentes nos resíduos urbanos”.

“Não temos qualquer hesitação sobre qual é a prioridade na gestão dos resíduos, e sabemos que a valorização é a primeira delas”, salientou o ministro do Ambiente.

A reciclagem, sendo muitas vezes aquilo que está ao dispor dos cidadãos “é, de todos os R’s da política dos três R’s [reduzir, reciclar e reutilizar] aquele que é mais evidente, mas se calhar aquele que tem menor futuro”, defendeu João Matos Fernandes.

O que é “verdadeiramente mesmo importante é reutilizar”, insistiu, apontando a relevância de uma política de utilizar cada vez menos matérias primas.

Nos últimos dois anos, “a intensidade de uso de materiais reduziu-se, o que é um bom sinal”, acrescentou.

“Estamos num caminho que, para trás, não tem só virtudes, recordo que aqueles que agora vêm dizer isto foram aqueles que encheram a boca com as estações de tratamento mecânico e biológico onde se iam aproveitar 15% ou 17% dos plásticos e afinal foi só 1%”, criticou o ministro, referindo-se à análise da Zero.

“Ainda não os vi a fazer qualquer autocrítica sobre isso, mas, normalmente quem faz autocrítica neste país são só os poderes públicos”, disse ainda João Matos Fernandes.

Segundo os valores apresentados durante a sessão sobre o Programa Nacional de Investimentos, no POSEUR (Programa Operacional para a Sustentabilidade e Uso Eficiente de Recursos), na área de resíduos, foram aprovados 82 projetos representando 167 milhões de euros.

As metas fixadas apontam para 60% do lixo a ser encaminhado para preparação para reutilização e reciclagem e para 70% de reciclagem de resíduos de embalagem, em 2030, assim como uma deposição em aterro inferior a 10% em 2035.