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Federação europeia diz que Bruxelas descobriu manipulação de emissões nos carros

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A Federação Europeia de Transportes e Ambiente divulgou ontem que a Comissão Europeia “descobriu evidências” de manipulação nos testes das emissões de dióxido de carbono, na indústria automóvel, para tentar baixar as metas futuras para este poluente.

A Federação Europeia de Transportes e Ambiente (Transport & Environment ou T&E), entidade a que pertence a Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero, diz ter tido acesso a documentos que revelam uma “nova manipulação pela indústria automóvel” dos resultados nos testes para as emissões de dióxido de carbono.

A informação, divulgada em Portugal pela associação ambientalista Zero, salienta que, menos de três anos após o escândalo ‘Dieselgate’ sobre a manipulação das emissões de óxido de azoto, “a indústria automóvel está agora a inflaccionar os resultados de poupança de combustível e emissões de CO2” (dióxido de carbono).

Este comportamento, salientam os ambientalistas, “pode eventualmente reduzir em mais da metade a dificuldade de cada fabricante para atingir as metas de CO2 a atingir em 2025. Dessa forma, poderão vender menos eléctricos e mais veículos a gasóleo, atingindo na mesma os objectivos de redução das emissões”.

Em novembro de 2017, a Comissão decidiu não propor uma nova meta baseada em gramas por quilómetro, a atingir em 2025, e em alternativa, exigir um corte de 15% naquele ano face às emissões apresentadas pelos fabricantes em 2021, o que será medido através de um novo teste de emissões.

“Como resultado, os fabricantes podem enfraquecer o rigor das suas metas de redução de CO2 em 2025, inflaccionando os resultados das emissões”, explicam os ambientalistas.

Segundo a Federação Europeia, os documentos da Comissão evidenciam que, nos testes de emissões, os fabricantes estão a desligar a função ‘start-stop’, a ajustar os padrões de mudança de velocidades e a usar baterias usadas para queimar mais combustível e emitir mais CO2.

“Com estes artifícios, os fabricantes declaram valores de emissão de CO2 superiores aos realmente medidos, mais uma vez inflaccionando os valores oficiais de emissão. No documento agora tornado público, a Comissão concluiu que, ‘como resultado, as metas para 2025 e 2030 também seriam enfraquecidas devido ao ponto de partida inflaccionado de 2021. Isso reduziria de facto o nível de ambição...”, explica a T&E.

Para a Zero, “está agora claro que os fabricantes estão a usar os novos testes de emissão para minar os já enfraquecidos limites de emissão de CO2, querendo atingi-los com o mínimo esforço para continuar a vender motores a gasóleo e atrasar a transição para os veículos eléctricos”.

Trata-se, segundo os ambientalistas, de “uma triste constatação de que a indústria automóvel parece querer permanecer no passado e não é confiável”.

Recordam que, na semana passada, na Alemanha, um relatório sugeriu que a investigação sobre um eventual conluio entre os fabricantes estaria a ser estendida também às emissões de partículas dos motores a gasolina.

“A Comissão deve estender a atual investigação sobre a eventual existência de conluio entre os fabricantes relativa à inflação das emissões de CO2 para obterem benefícios futuros”, mas também deverão existir “sanções para acabar com este comportamento endémico da indústria automóvel”, salienta a Zero.

Já no início de abril, a T&E, publicou um estudo a apontar que os fabricantes de automóveis “persistem no falso argumento” de que não conseguem cumprir as suas metas de emissões de dióxido de carbono, argumentando com a quebra nas vendas de carros a gasóleo, enquanto apostam em modelos SUVs, potentes e ineficientes, “para maximizar os lucros”.

As organizações ambientalistas lamentavam a estratégia da indústria automóvel para tentar demover os reguladores de avançar com novas metas mais ambiciosas para 2025 e 2030 e alertavam os decisores políticos para que “não se deixem enganar”.