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Afegãos votam sábado após campanha ensombrada por actos de terrorismo

FOTO Reuters
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As eleições no Afeganistão, no sábado, culminam uma campanha violenta e podem determinar, desde logo, se o Presidente norte-americano Donald Trump retira ou reforça o efectivo militar no terreno.

A campanha eleitoral para o Parlamento afegão foi assolada por dezenas de ataques terroristas de grupos talibãs, ensombrando um debate político centrado na reforma do sistema eleitoral e nos modelos de reconstrução do país, depois de décadas de conflitos militares, bem como nas melhores estratégias para captar ajuda internacional.

A continuação do apoio militar americano é uma das incógnitas, já que Donald Trump ainda não decidiu se vai reforçar ou retirar o contingente norte-americano que tem no terreno, que o Pentágono afirma ser de cerca de 19 mil militares.

Os analistas dizem que um ato eleitoral dominado por suspeitas de fraude e por uma consequente escalada de violência pode ser o melhor pretexto para o Presidente dos Estados Unidos da América retirar de cena o poderio militar.

A segunda consequência seria a total desestabilização do governo e o agravar das tensões políticas e sociais na região.

Pelo contrário, dizem os mesmos analistas, um ato eleitoral tranquilo e transparente poderá trazer para o palco uma nova geração de políticos, preocupados em combater a corrupção e encorajar o reforço de um difícil processo de democratização.

Mas as dezenas de ataques terroristas verificados ao longo da campanha eleitoral apontam para o mais gravoso dos cenários e os observadores internacionais não escondem a preocupação.

A campanha eleitoral ainda nem tinha começado e cinco dos candidatos a lugares no Parlamento já tinham sido mortos em ataques terroristas, em vários pontos do país, que visavam desestabilizar o processo de escolha dos deputados.

Nos dias seguintes, dois outros candidatos foram raptados e mais três foram feridos gravemente em acções terroristas realizadas junto das iniciativas de pré-campanha eleitoral.

Ao longo das últimas semanas, são poucos os dias em que não tenha havido incidentes graves, provocados por acções de terror por parte de grupos talibãs.

“Para dizer a verdade, sempre que saímos de casa, ficamos em perigo”, explicou à Associated Press o deputado Farhad Sediqi, de Cabul, que procura a reeleição.

Os ministros do Interior e da Defesa afegãos prometeram mais tropas na rua e mais segurança para os candidatos e para os seus apoiantes, mobilizando 54 mil soldados para proteger as urnas, mas ainda assim há ainda cerca de duas mil mesas de voto que não deverão abrir, por falta de condições.

Os talibãs apelaram directamente à violência contra as forças de segurança afegãs para boicotar as eleições legislativas, levando o secretário-geral da ONU, António Guterres, a condenar os ataques e a pedir a todos os protagonistas para assegurarem que as eleições decorreriam de forma normal e tranquila.

Em causa estão 250 lugares do Parlamento, para os quais concorrem cerca de 2.500 candidatos.

Apenas cerca de 8% destes candidatos são membros de partidos (mas concorrem a título individual), sendo a restante maioria candidatos independentes, grande parte deles procurando a reeleição, depois de terem sido escolhidos nas eleições de 2014.

As forças políticas rivais ligadas uma ao Presidente Ashraf Ghani e outra ao chefe do governo Abdullah Abdullah são as que mais influência exercem sobre muitos dos candidatos, em que uma das questões centrais é a reforma do sistema eleitoral.

No actual sistema, o eleitor tem a possibilidade de fazer as suas escolhas em qualquer uma das cerca de 21 mil mesas de voto, recorrendo ao cartão de voto que lhe foi fornecido.

O problema deste modelo começa logo por terem sido distribuídos cerca de 20 milhões de cartões de voto, sabendo-se que há apenas 12 milhões de afegãos elegíveis para o possuir e, desses, apenas nove milhões estão devidamente registados.

Ou seja, o potencial para fraude é grande, com este sistema, e as autoridades estimam que a introdução de um sistema de controlo electrónico pode demorar mais de dez anos a ser instalado.

Este foi um dos problemas que justificou o facto de as eleições já terem sido agendadas para 15 de Outubro de 2016, depois adiadas para 7 de Julho deste ano, para serem finalmente marcadas para o próximo sábado.

As eleições presidenciais acontecerão na primavera de 2019.