Madeira

“Os valores de Abril hão-de imperar”

Edgar Silva passou e cumprimentou as pessoas.
Edgar Silva passou e cumprimentou as pessoas.

Várias dezenas de pessoas estavam reunidas hoje ao início da tarde na Rua João de Deus, junto ao Centro de Saúde do Bom Jesus, na festa / comício do Partido Comunista Português (PCP) para celebrar o 25 de Abril na rua, como o povo celebrou há 43 anos, saindo e reclamando pela liberdade. Se hoje este é um valor conquistado, outros precisam ser salvaguardados. Edgar Silva acredita na melhoria.

Abril aconteceu na rua e foi na rua que a Revolução ganhou corpo, ganhou expressão, justifica o coordenador do PCP na Madeira, uma vez mais a liderar a reedição de uma festa popular que fecha a rua ao trânsito e que recorda uma “referência fundamental da história de Portugal, do povo português e também da Madeira, da nossa autonomia”.

Ontem por volta das 13 horas, a chuva tinha dado tréguas e pessoas de várias partes da ilha estavam reunidas para o almoço comemorativo promovido pela força partidária e para ouvir o discurso do coordenador do partido na Madeira.

Na intervenção, que iria acontecer mais tarde, Edgar previa falar de como 43 anos depois de Abril há valores fundamentais que estão a ser postos em causa. “Ameaças para os valores de Abril, particularmente todos aqueles processos que têm vindo a agravar as desigualdades sociais, a injustiça social”. O também deputado comunista sente que particularmente na Madeira “as pessoas estão a sentir um desalento muito grande, porque esperavam um tempo novo e eles têm a pobreza que não pára de crescer”. Não é o único problema apontado.

Além de identificar um terço da população a viver em situação de pobreza, junta-lhe como problema maior a questão das listas de espera na saúde e da habitação. “São mais de 80 mil pessoas a aguardar em lista por cuidado de saúde, 17 mil a aguardar por uma cirurgia, para acesso à habitação, só no Concelho do Funchal, 3.500 famílias aguardam por uma habitação. E para termos a dimensão, da gravidade deste problema, no Porto em lista de espera estão mil pessoas; em Coimbra estão cerca de 600 pessoas”. Comparando diferentes realidades, Edgar Silva acredita que é possível ter a noção da dimensão de problema, um problema, alerta, “que é gerador de um conjunto de outros problemas de exclusão e de pobreza que precisam de respostas”. “Lamentavelmente estes problemas não param de crescer, estão a agravar-se, a pobreza está a aumentar, as grandes desigualdades sociais, o abismo social está a aumentar, isto quer dizer que há um conjunto de ameaças a Abril”.

Recordando o poeta Jorge de Sena, revelou que tem também esperança. “Ele utiliza num dos seus poemas o relismo, de reles, que é tudo aquilo que apesar dos nobres valores que foram conquistados em Abril, como o relismo se impôs, se institucionalizou, negando valores fundamentais, valores nobres, de festa, de um novo rumo que era possível. Mas nós considerámos que esse reles, que são as desigualdades, a injustiça, o agravamento da pobreza e da exclusão social, que isso não é uma fatalidade e que os valores de Abril hão-de imperar”.