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Em modo de Natal...

Hoje, o Natal começa mais cedo, mas é mais rápido. Entra-se em modo de Natal em Novembro

Corria o ano da graça de mil novecentos e muitos... Entrava-se no mês de Dezembro. Para os mais pequenos, era um mês de muitos dias de feriados e de férias. A começar logo no dia 1 e, depois, no dia 8...

Dezembro era o mês em que se havia de trabalhar até ao dia vinte e poucos. Para os mais afortunados, havia lugar a uma roupinha nova, acertada, com antecedência, na costureira... E quiçá, umas botas em condições, feitas pelo Pelinhas, daquelas com sola de pneu que o ti Sócio tinha trazido do Curaçau... Mais próximo da véspera de Natal, havia que garantir alguns molhos de erva para o gado, porque não se devia trabalhar no dia de Natal e primeira oitava...

A grande função, a morte do porco, havia de ser marcada conforme a disponibilidade da agenda dos imprescindíveis participantes, a saber, os que haviam de guiar o animal ao cadafalso e segurar pelas patas e orelhas, e, sobretudo, do marchante. O marchante era escolhido pela arte de matar rápido, evitando assim o sofrimento do animal e a humilhação do marchante com os apupos provenientes da vizinhança que brindavam a falta de mestria do oficial da matança, com os gritos:

- Deita-lhe coives! Deita-lhe coives!

Morto o porco, vinha o pequeno almoço. Not british one! Neither continental! Bem madeirense e especial. Após o repasto, o marchante estava dispensado e seguia para nova vítima.

Entretanto, fazia-se a fogueira e aprontava-se a giesta e a feiteira para chamuscar o porco e preparar a carne que havia de fornecer muito conduto até ao mês de Dezembro do ano seguinte.

A partir do dia vinte, algumas raras e pouco habituais iguarias na mesa da grande maioria das famílias madeirenses, sobretudo as rurais, – queijo, cacau, ananás dos Açores, etc – abasteciam as prateleiras para serem consumidas nos dias festivas de Natal e seguintes.

Sem esquecer a lapinha que era aprontada na revéspera do Natal.

A noite de Natal saía da rotina diária. Podia-se estar acordados até bem tarde, por causa da missa do galo, das bombas e... do brinquedo que o Menino Jesus deparava! A família toda reunida.

O Pai Natal não tinha nascido ainda!

Também nestes dias, havia lugar ao folguedo. Os mais velhos colocavam-se à volta duma mesa de bisca ou cassino. Os mais novos juntavam-se formando grupos, maiores ou menores, onde brincavam à correia, à cabra-cega, à pilhagem, ao lencinho, ao anel. À espadinha, não! Esta era para a Páscoa. A cada época o seu jogo. Nada de trocas...

O dia de Reis encerrava as férias e o folguedo. O Santo Amaro limpava os armários.

Hoje, o Natal começa mais cedo, mas é mais rápido. Entra-se em modo de Natal em Novembro e está tudo na internet, no facebook e nas grandes superfícies.

Bom Natal a todos!