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Baratezas

Este último mês foi fértil em assuntos a merecer reflexão, mas como só me dão esta meia dúzia de caracteres para explanar pensamento retorcido (o meu, bem entendido!), vou fazer um esforço e tratar ao menos um deles o melhor que consigo.

Muito se falou da venda de quartos a 25€ por dia por parte de mais do que um grupo hoteleiro, como se esta fosse prática nova. A única novidade aqui foi a desfaçatez; tudo o resto existe e é feito há anos, nas barbas e com a complacência de todos!

Trata-se de uma forma comum de venda de um produto que se chama time sharing que, da última vez que alguém se preocupou em estudar o assunto, corria o ano de 2004 (e não, não é gralha, foi mesmo há 15 anos atrás) era a maior reclamação dos turistas sobre o destino Madeira.

Estou à vontade para falar porque, já aqui e noutros fóruns, disse variadíssimas vezes que, se eu mandasse, time sharing e all inclusive seriam dois tipos de oferta que não seriam permitidos. Sosseguem os menos atentos, no entanto: - eu nunca vou mandar; nem em casa se o consigo...

Vende-se time sharing em todo o lado: - em locais que, de forma nada enganosa, se designam por “tourism office”, com montras onde se anunciam excursões para o Curral das Freiras a 5€ por pessoa, com lanche incluído; na rua ou, mais bem-dito, nas várias ruas da cidade e com total impunidade; nos outros hotéis, através de guias de operadores que têm a distinta lata de vender produtos alheios nas nossas casas.

Nada disto interessa, claro até porque, pasme-se, a Lei permite e curiosamente quem elabora as ditas leis não consegue alterá-las, nem em face de uma reclamação séria, recorrente e prolongada no tempo, que não é minha mas dos nossos clientes!

Nem sequer oiço ninguém falar sobre práticas eventuais de dumping ou de estratégias concertadas de comercialização; favor notar que não era só um produto com exactamente a mesma oferta.

Claro que toda esta questão assume outra importância em face de mais uma falência de mais uma companhia aérea. Porque vai tornar ainda mais escasso um bem já de si escasso: - o lugar de avião, que certamente será ocupado com maior facilidade por aqueles que conseguem este tipo de negócios.

A única convicção que tenho é de que toda esta conversa vai morrer, sem que ninguém cuide de pensar mais do que 5 segundos sobre as razões que nos levam a ter de enveredar por estratégias de preços deste calibre, mesmo se tratando de time sharing.