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Vaticano investiga possíveis dilapidações de doações reinvestidas em prédio de luxo

Foto REUTERS/Remo Casilli
Foto REUTERS/Remo Casilli

A justiça do Vaticano está a investigar um circuito sobre a compra de um edifício de luxo londrino financiado com doações da Igreja, que envolve as finanças da Santa Sé e já implicou a demissão pelo papa de um responsável policial.

O inquérito, iniciado no verão, indica “graves indícios de dilapidação de fundos, fraude, abuso de função e branqueamento”, segundo a ata de indiciação ontem divulgada pela revista italiana L’Espresso. Um caso que parece confirmar a dificuldade do papa em impor a sua reforma de transparência financeira na hierarquia da Santa Sé.

A justiça do Vaticano procedeu em 01 de outubro à apreensão de documentos nos gabinetes da secretaria de Estado - o núcleo do governo local onde está instalada a guarda próxima do papa - e da autoridade de informação financeira, um corpo financeiro independente.

Cinco pessoas, incluindo o número dois desta autoridade contra o branqueamento e um prelado, foram “suspensos por precaução” no âmbito do inquérito. Na segunda-feira, o papa Francisco decidiu afastar Domenico Giani, o seu fiel guarda pessoal e chefe da polícia do Vaticano, indica a agência noticiosa AFP.

Diversas fugas de documentos também implicaram um outro inquérito a pedido do papa, e que foram entretanto divulgados por Emiliano Fittipaldi, jornalista de investigação do L’Espresso.

Este repórter tinha já publicado documentos sobre as práticas financeiras internas da Santa Sé num grande escândalo designado “Vatileaks II” em 2015 e que implicou um processo e a condenação de um prelado espanhol por ter divulgado os ‘dossiers’ secretos.

De acordo com o L’Espresso estão agora em causa 650 milhões de euros de fundos à disposição da secretaria de Estado (em 2019) “provenientes na sua maioria de doações recebidas pela Santa Sé destinadas a obras de caridade e de funcionamento da Cúria romana”.

Cerca de 500 milhões de euros destes fundos foram confiados nos últimos anos ao banco Crédit Suisse, encarregado de os reinvestir.

O inquérito teve origem, segundo a revista italiana, numa indicação do Instituto para as obras religiosas (IOR), a “banca do Vaticano”, a quem a secretaria de Estado terá solicitado em 2018, sem muitas explicações, uma verba de 150 milhões de euros para concluir a compra de um edifício no rico bairro londrino de Chelsea (17.000 m2 transformados em 50 apartamentos de luxo), um operação com um custo total de 200 milhões de euros.