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Turquia diz que UE ultrapassou “um pouco os limites” ao pedir libertação de opositor

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A Turquia considerou hoje que a União Europeia “ultrapassou um pouco os limites” quando, na quinta-feira, apelou para a libertação de um dos principais opositores do Presidente turco Recep Tayyip Erdogan, Selahattin Demirtas.

Na quinta-feira, durante uma conferência de imprensa conjunta com o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlüt Cavusoglu, em Ancara, a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, disse esperar que Selahattin Demirtas, que está detido preventivamente há dois anos, fosse libertado em breve.

Na mesma ocasião, Mogherini lembrou que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos intimou, esta semana, a Turquia a pôr fim à prisão de Demirtas.

Hoje, em declarações à cadeia de televisão CNN-Turquia, Mevlüt Cavusoglu considerou que Mogherini “ultrapassou um pouco os limites” com as suas declarações.

“Disse-lhe isso durante o nosso encontro”, adiantou

Detido desde novembro de 2016, Selahattin Demirtas, 45 anos, é uma das principais figuras do Partido Democrático dos Povos (HDP, pró-curdo).

Na terça-feira, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos intimou a Turquia a terminar a prisão de Demirtas, mas o Presidente turco descartou a decisão do tribunal, dizendo que não vincula Ancara, ainda que a Turquia seja membro do Conselho da Europa, cujos membros concordaram em seguir as decisões do tribunal.

O opositor curdo, que já foi condenado por “propaganda terrorista”, é acusado em dezenas de outros processos e enfrenta até 142 anos de prisão se for considerado culpado.

O seu advogado, que recorreu da prisão preventiva para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, informou ter pedido a libertação de Demirtas, após a decisão de terça-feira.

A prisão do opositor é criticada pelas organizações de defesa dos direitos humanos que acusam o Presidente da Turquia de pretender calar a oposição, particularmente depois da tentativa de golpe de Estado de 2016.

Na sequência da tentativa de derrubar o Governo de Erdogan, as autoridades turcas promoveram uma purga em larga escala no país, visando não apenas os promotores do golpe, mas também milhares de pró-curdos, intelectuais, académicos e jornalistas críticos do presidente.

A chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, e o comissário europeu para a Política Europeia de Vizinhança e as Negociações de Alargamento, Johannes Hahn, visitaram Ancara, na quinta-feira, num momento em que o processo de adesão da Turquia à União Europeia está parado.

A tensão nas relações entre a UE e a Turquia agravou-se quando o bloco europeu criticou Ancara pela purga lançada contra opositores e média críticos na sequência da tentativa do golpe de Estado de 2016 no país.

“A Turquia será mais forte com uma sociedade unida, comunicação social livre e um diálogo constante e aberto entre a sociedade civil e os dirigentes”, disse Mogherini em Ancara.

“Exprimimos profunda preocupação com a detenção recente de vários académicos de renome e de representantes da sociedade civil”, acrescentou

O chefe da diplomacia turco reafirmou, por seu lado, na conferência de imprensa com Mogherini, que o país mantém o objetivo de adesão à União Europeia “como membro de pleno direito”.

“As declarações que excluem a Turquia e ignoram o seu estatuto de candidato à adesão não têm qualquer utilidade”, disse Cavusoglu.