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Rede de evasão fiscal custa 50 mil milhões à UE e financia terrorismo

FOTO Shuterstock
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Uma gigantesca rede de evasão fiscal, que custa aos países da UE 50 mil milhões de euros anuais, parte dos quais dirigida a grupos terroristas islâmicos, foi hoje denunciada por uma plataforma de investigação com 63 jornalistas de 30 países.

A plataforma “Correctiv”, coordenada pela Alemanha, integra jornalistas de meios de comunicação como o jornal francês Libération, o alemão Handelsblatt, o italiano Ilsole24Ore e o espanhol El Confidencial.

Segundo esta fonte, a rede evita o pagamento do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) através de comércio transnacional de mercadorias, conseguindo devoluções do fisco de quantidades que nunca chegaram a ser pagas.

No negócio está, por exemplo, o líder de uma célula da Al-Qaida descoberta em Manula, Zakaria Sais, que chegou a aparecer como gerente da empresa dinamarquesa Q Transport, responsável por uma fraude fiscal no valor de 22 milhões de euros.

A história principal da “Correctiv” começa com um caso concreto, o de um jovem identificado com o nome fictício de Amir Bahar que se tornou multimilionário antes dos 20 anos, depois de ter começado, aos 16 anos, a vender telemóveis no pátio de uma escola alemã.

Quando Amir Bahar foi detido, em 2014, tinha 11 empresas e vendia, não só telemóveis, mas também consolas, cabos de cobre e certificados de CO2.

No entanto, Bahar não obtinha lucro com estes produtos, mas sim com tudo o que obtinha através de delitos fiscais.

No final, Bahar foi condenado por evasão fiscal no valor de 40 milhões de euros.

Bahar é só um exemplo de um negócio que levou um agente inglês das Finanças a dizer, segundo cita a “Correctiv”, não entender porque é que “há pessoas que se metem noutras formas de crime e traficam drogas se podem ganhar tanto dinheiro com estas fraudes em carrossel”.

O conceito de “carrossel” é avançado pela plataforma de jornalistas para designar o sistema usado pela rede em toda a Europa.

Nos “carrosséis”, os negócios com os produtos -- desde objectos de uso diário até certificados de emissões de CO2, passando por metais e gás -- são legais. O crime é cometido através de fraudes fiscais que permitem lucros milionários.

No negócio, Amir Bahar era apenas um elemento secundário que recebia uma pequena parte do dinheiro obtido por esta via.

Por detrás dele funcionavam pessoas com mais influência como, de acordo com a “Correctiv”, o britânico Peter Virdde Singh, conhecido como “Batman” e que se apresenta como um magnata do imobiliário com tendência para a filantropia e uma fortuna de 5.500 milhões de libras (cerca de 5.200 milhões de euros).

Virdee Singh foi detido em 2017 no aeroporto londrino de Heathrow, tendo a Alemanha pedido a sua extradição. Actualmente está em liberdade depois de pagar fiança.

O processo contra Amir Bahr, que foi extraditado para a Alemanha depois de ter sido detido nos Estados Unidos, levou à abertura de processos contra executivos do Deutsche Bank pela sua participação em negócios de carrossel.

Em Abril de 2016, Bahar foi condenado a cinco anos e seis meses de prisão, dos quais foram descontados os dois anos em que esteve em prisão preventiva. No final de abril saiu em liberdade condicional.