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RDCongo com mais de 528.000 refugiados e de quatro milhões de deslocados em 2018

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O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) revelou hoje que a República Democrática do Congo registou em 2018 mais de 528.000 refugiados e um número superior a quatro milhões de deslocados internos.

Os dados da ACNUR sobre a crise na República Democrática do Congo (RDCongo), país com um ato eleitoral previsto para domingo e que está novamente a ser atingido por uma epidemia de Ébola, serão consolidados no início do próximo ano e incluídos em relatório da agência das Nações Unidas focado no fenómeno migratório.

Nos últimos dias, os focos de violência na RDCongo multiplicaram-se, o que forçou a comissão eleitoral congolesa a adiar para março de 2019 as eleições em regiões em que se têm registado conflitos.

De acordo com a ACNUR, os refugiados na RDCongo são maioritariamente constituídos por pessoas que fugiram do Ruanda, por causa de conflitos étnicos, sendo o registo provisório de cerca de 217.000 ruandeses cruzaram a fronteira congolesa na província de Kivu Sul, no leste congolês.

Igualmente pela mesma província da RDCongo, 42.000 pessoas deslocaram-se do Burundi.

Pela fronteira no norte da RDCongo transitaram 171.000 pessoas provenientes da República Centro-Africana, país do tamanho da França onde Portugal tem uma Força Nacional Destacada no âmbito de missão da ONU e que ainda não é controlado pelo Estado, uma vez que mais de 14 grupos armados controlam quase todo o território, com as minas de ouro e lítio na sua posse.

Através da fronteira congolesa no nordeste, 91.000 refugiados do Sudão do Sul entraram igualmente pelo nordeste da RDCongo, pelas províncias de Kivu Norte e Ituri, atingidas pela epidemia do vírus Ébola, declarada em 01 de agosto deste ano.

A ACNUR, que refere que a RDCongo recebeu ainda mais de 40.000 pedidos de asilo em 2018, registou também refugiados provenientes de Angola e da República do Congo, mas os números, que carecem de consolidação, são residuais.

Também por consolidar estão os registos de saídas de cidadão da RDCongo para os países vizinhos, estimando a ACNUR que, em 2018, tenham sido mais de 800.000.

Os congoleses não só fogem da instabilidade política e dos conflitos como da epidemia de Ébola, que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), provocou 357 mortos desde 01 de agosto até 27 deste mês.

A OMS indica também que 591 pessoas nas províncias de Kivu Norte e Ituri foram contaminadas pelo vírus, estando confirmados 543 casos.

As eleições presidenciais, legislativas e provinciais na RDCongo, às quais não concorre o Presidente Joseph Kabila, no porder desde janeiro de 2001 e impedido de se recandidatar pela Constituição, realizam-se no domingo, mas não em todo o país.

Na quarta-feira, após análise de relatório parcial que revela novas tensões na crise na RDCongo, a comissão eleitoral daquele país anunciou que as eleições em Beni-Butembo, na província do Kivu Norte, e Yumbi, em Mai-Ndombe, duas zonas em que se registam conflitos, se realizam apenas em março do próximo ano.

As duas regiões estão também a ser afetadas pelo vírus Ébola, pelo que a comissão eleitoral justificou o adiamento com a falta de condições de segurança, o mesmo motivo que levou hoje a organização não-governamental Oxfam a suspender o trabalho nas áreas afetadas pela doença.

O responsável da ONG britânica na RDCongo, Raphael Mbuyi, considerou que a “situação é verdadeiramente preocupante”, afirmando que “sempre que a resposta ao Ébola é suspensa constata-se um aumento do número de novos casos de contaminação”.