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Presidência síria da Conferência sobre Desarmamento é uma farsa, diz embaixador dos EUA

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O embaixador norte-americano na Conferência sobre Desarmamento classificou hoje como “uma farsa” a chegada da Síria à presidência da organização e abandonou a sala em protesto durante o discurso de abertura do representante de Damasco.

“A presença da Síria aqui é uma farsa (...) É inaceitável que [os Sírios] dirijam este órgão. Eles não têm autoridade moral nem credibilidade para fazê-lo”, declarou à AFP o embaixador Robert Wood.

No início da sessão que decorre nas instalações das Nações Unidas em Genebra, Wood levantou-se e saiu da sala em sinal de protesto durante o discurso de abertura do representante sírio.

Regressou de seguida para fazer o seu discurso, no qual anunciou que os EUA farão tudo para impedir a presidência síria de tomar medidas nas próximas quatro semanas.

“Hoje é um dia triste e vergonhoso na história deste órgão”, disse o embaixador perante os representantes dos 65 Estados-membros da Conferência sobre Desarmamento.

“Não podemos ficar cegos perante a presidência de um regime que apoia tudo aquilo que este órgão foi concebido para impedir”, acrescentou.

Vários Estados-membros da ONU já tinham antes manifestado indignação perante o facto de a Síria assumir, durante quatro semanas, a presidência rotativa da Conferência sobre Desarmamento, organismo que estará reunido esta semana em Genebra.

A medida está em conformidade com os estatutos do organismo, uma vez que a Síria vai substituir a Suíça na presidência rotativa, seguindo a ordem alfabética (em inglês) dos 65 Estados-membros que integram atualmente a Conferência sobre Desarmamento.

A formalidade está, porém, a suscitar indignação porque surge algumas semanas depois de mais um presumível ataque químico na Síria, cuja responsabilidade está a ser atribuída ao regime de Damasco.

A Conferência sobre Desarmamento não é considerada como um órgão das Nações Unidas, mas realiza as respetivas reuniões na sede da organização internacional em Genebra (Suíça).

A Conferência sobre Desarmamento esteve envolvida nas negociações da Convenção para a Proibição das Armas Químicas, documento que foi assinado pela Síria em 2013.

A perspetiva de ter Damasco na presidência deste organismo, cujo regime liderado pelo Presidente Bashar al-Assad é acusado pelo Ocidente de utilizar gases tóxicos contra a população civil síria, está a incomodar várias vozes internacionais.

Atualmente, a Organização para a Proibição de Armas Químicas está a investigar a Síria sobre diversas acusações e a estrutura acredita que armas químicas foram usadas, ou que existe uma grande probabilidade de terem sido usadas, em 14 situações até à data.

O caso mais recente foi relatado no início de abril, quando informações indicaram que um presumível ataque químico em Douma, em Ghouta Oriental, nos arredores de Damasco, teria provocado mais de 40 mortos e afetado cerca de 500 pessoas.

A Síria, que entrou no oitavo ano de guerra, vive um drama humanitário perante um conflito que já fez pelo menos 511 mil mortos, incluindo cerca de 350 mil civis, e milhões de deslocados e refugiados. Mas estes números estão em constante evolução.

Na terça-feira passada, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos disse que mais de 43.000 pessoas morreram na Síria desde janeiro de 2017 devido à guerra civil, período em que as forças governamentais retomaram mais de 80.000 quilómetros quadrados de território.

Segundo esta organização não-governamental, entre as 43.572 vítimas mortais figuram 14.460 civis, dos quais 3.070 eram menores e 2.090 mulheres.

Desencadeado em março de 2011 pela violenta repressão do regime de Bashar al-Assad de manifestações pacíficas, o conflito na Síria ganhou ao longo dos anos uma enorme complexidade, com o envolvimento de países estrangeiros e de grupos ‘jihadistas’, e várias frentes de combate.