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Uma visão diferente para a Região

Portugal vem a insistir, há décadas, em políticas centradas naquilo que lhe falta (liquidez), negligenciando o que tem de melhor (as pessoas). Implementam-se políticas de “penso rápido”, ora para estancar “feridas” económicas, ora para aliviar a asfixia psicossocial, com uma dose de supressão de necessidades políticas em alguns momentos, sem existir uma missão orientada por uma relação sustentável entre economia, pessoas e contextos de trabalho.

Em dezembro, a OCDE previu o aumento do período de trabalho, em Portugal, para os 72 anos, em 2050. Embora sirva de base, este número não é o mais significativo na análise. Integradas, com propósito, condições laborais e de saúde, as pessoas podem contribuir para a economia e para o mercado de trabalho até essa idade. Têm é de ser criadas condições para tal, desde a contratação à preparação para a reforma. Caso contrário abrimos espaço a mais prejuízo. E é aqui onde a psicologia e os psicólogos têm muito a oferecer.

Mas continuamos a não ver o Governo da República tomar medidas nesse sentido. Isto porque, ainda recentemente rejeitou propostas concreta, atenuadoras do flagelo que se prevê quanto a trabalhar até sermos septuagenários. Não considerar a implementação de estratégias de intervenção e prevenção de riscos psicossociais e neuropsicológicos no trabalho ou a não criação da figura do psicólogo do trabalho é vedar às organizações um olhar dinâmico sobre a saúde ocupacional, enquanto ferramenta de produção de produtividade, bem-estar e lucro.

Neste cenário abre-se caminho à promoção de riscos psicossociais e deterioração da saúde física, social e mental, em termos ocupacionais, com fortes prejuízos para a vida das pessoas, das organizações e do próprio Estado. Perante estes dados e medidas políticas, facilmente se pode prever um forte aumento de custos com absentismo, com presentismo e avultados prejuízos ao nível das perturbações mentais, com todo o sofrimento psicológico e consequências psicossomáticas que daí decorre. Aumento generalizado de perturbações depressivas e de ansiedade. Aumento de perturbações de sono ou derivadas de condições clínicas gerais (cancro, problemas músculo-esqueléticos...). Aumento de consumos de psicofármacos ou de substâncias tóxicas, em função do não adequado tratamento com recurso ao acompanhamento psicológico.

Enfim, enquanto não se pensar a saúde ocupacional como fator determinante, como já vários países europeus fazem, com reconhecimento da importância dos psicólogos nesta matéria, estaremos presos aos números e às quantidades. Aos decretos ao invés da ação proativa e preventiva, sem promover qualidade e sustentabilidade, asfixiando as empresas com a suposta “cura”.

Nos 10% das empresas que investem na promoção da saúde mental, os índices de saúde, produtividade, satisfação, realização e integridade de imagem institucional são patentes. Já os impactos da não prevenção resultam em prejuízo – Na saúde, produtividade, economia, famílias, empresas e para o Estado – três pontes Vasco da Gama, anualmente, segundo relatório da Ordem dos Psicólogos Portugueses (3. 2 mil milhões de euros).

E é aqui que a Região pode introduzir uma visão e ação pioneira no país. E como? Garantindo sustentabilidade, pela promoção da psicologia da saúde ocupacional no sistema público e incentivando-a no privado. Uma inovação, com impactos positivos na saúde, na economia e na imagem governativa, em tempo de pandemia e com 2050 no horizonte.

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