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Papa aceita renúncia do arcebispo de Santiago do Chile acusado de ocultar abusos

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O papa Francisco aceitou a renúncia do arcebispo de Santiago do Chile, Ricardo Ezzati, acusado no seu país por alegado encobrimento de casos de abuso sexual.

O Vaticano divulgou hoje que o pontífice aceitou a renúncia apresentada pelo cardeal, embora sem indicar mais detalhes.

No lugar do cardeal Ezzati, Francisco nomeou Celestino Años Braco, até então bispo de Copiapó, como administrador apostólico até haver um novo arcebispo.

O cardeal Ricardo Ezzati é suspeito de encobrir, durante anos, abusos sexuais cometidos por sacerdotes da Igreja Católica chilena.

A Igreja Católica chilena está a passar por uma grave crise devido a casos de abuso sexual que já atingiram vários bispos.

Cerca de 80 membros do clero foram implicados numa série de abusos sexuais nos últimos anos, segundo uma associação de vítimas, e a visita do papa em meados de janeiro de 2018 reabriu feridas.

O papa enviou para o terreno o arcebispo de Malta e secretário adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé, Charles J. Scicluna, para uma investigação, tendo este produzido um relatório que inclui 64 testemunhos e que acabou por desencadear em maio a renúncia em bloco dos bispos chilenos, reconhecendo que cometeram “erros e omissões graves”.

Pelo menos sete dessas renúncias já foram aceites pelo papa.

Três vítimas, que foram recebidas pelo papa Francisco no Vaticano, acusaram os cardeais Francisco Javier Errázuriz e Ricardo Ezzati, o arcebispo emérito de Santiago e o atual titular da arquidiocese, respetivamente, de encobrir os abusos.

Na sexta-feira, a Procuradoria Nacional do Chile anunciou que o número de suspeitos ligados à Igreja Católica do Chile de terem cometido abusos sexuais a crianças, adolescentes e adultos subiram para 219.

De acordo com o registo de crimes sexuais cometidos por clérigos e leigos ligados à Igreja Católica, existem actualmente 158 casos confirmados e 241 vítimas, das quais 123 eram menores na época em que os crimes foram cometidos.

Na sexta-feira, o Vaticano respondeu a um pedido de informação feito em 2018 pelo Ministério Público através da Assistência Internacional em Matéria Penal.

Os pedidos são sobre os processos canónicos envolvendo réus sob investigação pelo Ministério Público.

A resposta que chegou à chancelaria, e que foi enviada ao Ministério Público, contém mais de 20 documentos.

Em particular, foram solicitadas informações sobre as investigações realizadas pelos promotores regionais de O’Higgins, Valparaíso e La Araucanía.

Em 20 de fevereiro, o bispo Fernando Ramos, representante da Conferência Episcopal do Chile, disse que o abuso sexual “causa uma dor que feta toda a vida das pessoas” e também admitiu que a Igreja pediu perdão “porque ninguém tem de viver isto”.

O bispo reconheceu que é um crime que marca as pessoas, produz danos enormes considerando ser “ainda mais grave que o abuso sexual tenha ocorrido em ambientes eclesiásticos, onde as pessoas deveriam sentir-se particularmente seguras”.