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Equipas de socorro temem surto de doenças em locais de abrigo em Moçambique

Foto EPA
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As equipas de socorro e assistência humanitária em Moçambique temem um surto de doenças contagiosas em 160 locais de abrigo com más condições de saneamento que acolhem mais de 36 mil pessoas desalojadas pelo ciclone Idai.

O alerta foi dado hoje pela chefe da África Austral do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA, na sigla em inglês), Gemma Connell, que está em Moçambique a acompanhar as operações de resgate e assistência.

Gemma Connell, que falava por ligação telefónica a partir de Moçambique aos jornalistas reunidos na sede da ONU, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, disse que o OCHA está a monitorizar 160 locais de abrigo na província de Sofala e nas áreas circundantes que foram mais afetadas pelas cheias, que acolhem mais de 36 mil pessoas desalojadas.

Segundo a responsável do OCHA, o risco de transmissão de doenças entre as vítimas do ciclone é muito elevado, agravado pelas más condições de saneamento e possibilidade de contacto com águas contaminadas.

As equipas de resgate e socorro continuam alertadas para a possibilidade de inundações secundárias ou para o movimento de águas que se estão a acumular noutros locais.

Gemma Connell declarou que a boa notícia é que o nível da água já está a descer em Buzi, o distrito mais afetado pelas inundações.

Fonte das operações de socorro no local disse hoje à Lusa que seriam necessárias três a quatro semanas para a água escoar em Buzi.

Beira é área de maior dificuldade para as equipas, devido aos prejuízos nas estradas e devido a enchentes provenientes de várias direções circundantes, o que obriga a operações aéreas com uma combinação de recursos terrestres.

Sob circunstâncias “incrivelmente desafiantes”, como as limitações de combustível ou falta de eletricidade, as equipas têm tentado mobilizar o máximo de recursos disponíveis, garantiu a chefe da África Austral do OCHA, tendo como primeira prioridade o resgate de sobreviventes, presos no topo de árvores ou de telhados, acima da água.

O OCHA acredita que muitas pessoas terão sido separadas dos seus familiares, levados pelas forças das águas, mas as equipas tentam estabelecer o contacto e as ligações com as famílias, nos locais de abrigo.

As pessoas que não podem ainda ser retiradas de localizações mais remotas têm recebido assistência, como a distribuição de barras energéticas pelo Programa Alimentar Mundial (PAM).

O ciclone Idai, com fortes chuvas e ventos até 170 quilómetros por hora, atingiu a Beira (centro de Moçambique) na noite de 14 de março, deixando os cerca de 500 mil residentes na quarta maior cidade do país sem energia e linhas de comunicação.

De acordo com números divulgados hoje em Genebra, Suíça, pelo PAM, agência das Nações Unidas, a passagem do ciclone Idai por Moçambique, Zimbabué e Maláui atingiu, pelo menos, 2,8 milhões de pessoas.

O número de mortos confirmados na sequência do ciclone Idai subiu para 242 em Moçambique e 139 no Zimbabué, segundo dados oficiais hoje divulgados pela ONU.

As únicas estimativas conhecidas do Maláui fixam-se em 56 mortos e 177 feridos.

A Cruz Vermelha Internacional indicou que pelo menos 400.000 pessoas estão desalojadas na Beira, considerando que se trata da “pior crise” do género em Moçambique.