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Embaixada em Caracas acompanha caso de Vasco da Costa

Lusodescendente está detido há mais de um ano e terá sido sujeito a tortura. Precisa de operação cirúrgica urgente a um tumor num olho

Foto DR/Efecto Cocuyo
Foto DR/Efecto Cocuyo

O politólogo lusodescendente Vasco da Costa, preso em Caracas, precisa de uma operação cirúrgica urgente ou pode perder um olho, por falta de atenção médica na cadeia onde se encontra, denunciou sexta-feira à noite a irmã.

Em resposta, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, afirmou à SIC Notícias que a Embaixada na capital venezuelana está a acompanhar o caso, bem como os serviços consulares, inclusive “os dois conselheiros sociais que apoiam os portugueses que estão a ser objecto de detenção” e que tem levado a “diálogo constante com as autoridades venezuelanas”, disse.

Acrescentou ainda que para que Vasco da Costa possa ter condições de ser submetido a uma cirurgia terá de sair da Venezuela, pelo que “tem de ser a administração judicial que pode garantir essa saída” do país, garantindo José Luís Carneiro que o esforço para conseguir essa libertação por razões humanitárias continua.

“O meu irmão está doente. Tem um tumor no olho esquerdo. Está em perigo de perder o olho esquerdo ou de morrer”, disse à agência Lusa Ana Maria da Costa, que apelou à intervenção do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, da Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, e do Governo português.

Segundo Ana Maria da Costa, o seu irmão “foi torturado em Abril e Maio do ano passado” na prisão militar de Santa Ana e depois começou a queixar-se de que “o olho lhe doía e que estava sempre vermelho”.

“O olho tem ficado cada vez mais e mais vermelho desde há três meses. Eu alertei as autoridades que ele estava doente e que tinha que ser levado ao hospital. No Hospital Militar disseram-lhe que não era nada e receitaram-lhe umas gotas para os olhos, mas um ponto pequenino que tinha na córnea começou a crescer” e “em duas semanas o tumor tornou-se visível”, tendo sido novamente levado ao hospital, afirmou.

Mandaram-lhe fazer um exame “que há mais de cinco anos não se faz na Venezuela porque o Governo deixou de autorizar dólares para a importação do material que se usa para o fazer”, acrescentou, explicando que um médico patologista disse-lhe então que “o tratamento tem que ser feito à maneira antiga”: o tumor tem de ser extraído para ser feita uma biopsia e definir um tratamento.

Ana Maria da Costa diz-se “desesperada” e insiste em “pedir auxílio”, apelando a que “as autoridades” não deixem “apodrecer” o irmão na prisão.

“Aqui [na Venezuela] os presos políticos são deixados à deriva, abandonados nas cadeias, e as doenças consomem-nos”, afirmou.

“Peço ajuda ao Governo de Portugal, à comunidade internacional, que não permitam que o meu irmão, Vasco da Costa, perca o olho ou morra (...). A verdade é que o Vasco está em perigo neste momento”, disse.

Ana Maria da Costa apelou, em concreto, ao secretário-geral da ONU, António Guterres: “Não abandone os presos políticos na Venezuela. Somos filhos de portugueses e portugueses também. Não permita que esta gente nos mate. Não nos virem as costas, nós existimos e estamos a sofrer. E, à doutora Michelle Bachelet, também lhe peço que não vire as costas à realidade. Não permita que estas pessoas matem o meu irmão Vasco, ou que perca um olho”, concluiu.

Vasco da Costa, de 58 anos, foi detido na sua casa em Abril de 2018 por agentes do SEBIN (serviços secretos da Venezuela).

De acordo com Ana Maria da Costa, 30 agentes dos serviços secretos, “vestidos de comandos e com espingardas”, arrombaram a porta, espancaram o irmão e destruíram a casa.

Filho de um antigo cônsul de Portugal em Caracas, Vasco da Costa já tinha estado detido entre Julho de 2014 e Outubro de 2017.

Na altura, foi acusado de ligações a uma farmacêutica que estaria, alegadamente, envolvida em planos para fabricar engenhos explosivos artesanais, durante os protestos ocorridos no primeiro semestre de 2014 contra o Governo do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

Segundo Ana Maria da Costa, Vasco da Costa foi acusado dos crimes de terrorismo, associação para cometer delito com fins de terrorismo, fabrico ilegal de explosivos para fins terroristas e ocultação de munições.

Vasco da Costa define-se como “contrarrevolucionário, conservador e anticomunista”, faz parte do Movimento Nacionalista Venezuelano e do partido Nova Ordem Social, liderado pela lusodescendente Venezuela Portuguesa da Silva, atualmente radicada na Espanha.

A Organização Não Governamental (ONG) Foro Penal Venezuelano (PFV) denunciou na quinta-feira que 773 cidadãos estão detidos por motivos políticos na Venezuela, enquanto outros 8.615 estão submetidos a “processos injustos”. Vasco da Costa é um desses presos.