Madeira

Para crescer é preciso sair da Madeira

‘Da Madeira para o Mundo’, último painel do Encontro de Investidores da Diáspora’ deu voz a empresários que falam da sua experiência

FOTO Rui A. Silva/ Aspress
FOTO Rui A. Silva/ Aspress

A Empresa de Cervejas da Madeira, liderada por Miguel de Sousa, deu o salto para o mundo há relativamente pouco tempo, com grande enfoque na China, o maior mercado mundial. O empresário que está à frente da ECM desde 1993 e político, na qual se destacou como secretário regional e fundador do projecto do CINM, começou por frisar que este pode ter sido um dia histórico para a Madeira, por ter dito que podemos ter uma região de baixa fiscalidade tal como outras ilhas e jurisdições de reduzida dimensão na Europa. A ver se no futuro é alcançado algo que parecia quase impossível.

Com 17 anos queria ser engenheiro naval e foi enviado para Inglaterra pelo pai para lá estudar, por isso lembra-se que quando foi buscar o passaporte ao Palácio de São Lourenço, em 1970, estavam muitos rapazes com as famílias à espera do documento que eram lidos em voz alta a quem era dado o passaporte e a alegria ou tristeza de quem ouvia ou não o seu nome. E por uma lei de Marcelo Caetano que dizia que só podia sair quem fizesse a tropa e se o fizesse não podia voltar ao país antes dos 35 anos, desistiu. Voltou-se para outras actividades, revendo-se nos empresários que tiveram que sair para ter sucesso, muito porque trabalham em centros de milhões de pessoas. Ser bem sucedido numa terra de 260 mil pessoas é preciso ter alguma habilidade para tirar algum rendimento face aos riscos que se enfrenta. Por isso, no seu entender, para uma empresa crescer tem de sair deste mercado exíguo e aí, além de ser preciso fazer conhecer a marca, junto dos mercados que não a conhecem, ou apostar no ‘mercado da saudade’. Para a ECM foi extraordinariamente fácil ir para a China, para onde já exporta 20% da sua produção, porque foram contactados por um investidor que o queria fazer.

Custa mais, disse, levar o contentor (1.600 euros) para Lisboa do que de lá para a China (600 euros). Quando não sentirmos que não somos ilhas, vai ser diferente. Depois é promover as nossas marcas.

A Nearsoft Solutions tem 96% dos negócios no estrangeiro e opera a partir do CINM, liderada pelo engenheiro informático Pedro Camacho. Uma empresa com um percurso diferente, pois começou no estrangeiro e só ao sexto cliente é que era uma empresa nacional.

Após 17 anos a trabalhar numa empresa internacional, chegou à conclusão que o paradigma do produto software mudou e agora passa pela confiança. Começou há dois anos alugando uma mesa no Cowork Funchal e hoje já são 16 colaboradores. Não enfrenta constrangimentos de transportes e logística e pode olhar olhos nos olhos com qualquer empresa europeia, por isso defende a maior capacitação dos estudantes da Universidade da Madeira.

Lutou pelo seu atelier de arquitectura e design de interiores granjeou sucesso mundial, prestígio que já lhe valeu diversas distinções. Tudo começou porque na sua casa todos acreditavam nela, hoje são cerca de 60 pessoas. Formou-se nos Estados Unidos, esteve na Dinamarca, conseguiu uma equipa que hoje, alguns, trabalham há mais de 20 anos. Contou a sua vida de forma emocionada, lembrando que com muita dedicação conseguiu fazer da sua empresa formada no Funchal para o mundo, que faz, disse, uma cabana. Sobre o hotel onde decorreu o Encontro, que contou com o trabalho do seu atelier e onde há três anos entra e nunca se tinha sentado. O orgulho da sua empresa ser falada lá fora.

A energia é a área em que Diogo Soares e se especializou com a Floating Particle, que tem um conceito complexo mas de simples explicação. Vive fora mas é na região que regressa sempre para trazer conhecimento. Há uma grande dificuldade em trazer peças para a tecnologia e indústria. Numa cidade que 63% da água é perdida daria para encher a piscina da penteada 8.400 vezes e se a cada 40 minutos enchesse e esvaziasse a piscina representaria as perdas de água na cidade. Tentaram encontrar uma solução para trazer a inteligência artificial para a gestão do caudal e fluxos de água que chegam às torneiras, poderá alcançar uma poupança de 30 a 40% nas perdas de água por detecção de fugas ou anomalias na rede.

Miguel Caires teve o primeiro contacto no trabalho aos 14 anos na empresa do pai Alberto Caires ou ‘Alberto Oculista’ como é mais conhecida a empresa que já se expandiu para fora da Madeira e de Portugal. Desde 2012 é o CEO da empresa, mas ficou com a sensação que ainda tem muito a fazer. Quem quer ser empreendedor tem de trabalhar com emoção e vontade. Em 1984 quando o pai deu os primeiros passos na emancipação empresarial, fez crescer uma empresa que hoje é um grupo com seis áreas de actividade, que continua a crescer e olha para o futuro e as tecnologias como ferramentas, para levar uma empresa formada num vão de escada para o mundo. A grande missão desta segunda geração foi homenagear a paixão e coragem do pai há 35 anos, olhando para o mundo como uma oportunidade e não como uma ameaça.