Porque é que a atividade política está carente de compromisso e competência?
A política é um dos pilares fundamentais da sociedade, sendo responsável pela construção e manutenção de um sistema que visa o bem-estar comum. No entanto, a crescente dificuldade em atrair pessoas comprometidas e competentes para ocupar cargos políticos é hoje uma dificuldade conhecida, a qual deveria ser geradora de enorme preocupação.
Aparentemente não o é. A desconfiança generalizada nas instituições políticas, a corrupção e a falta de transparência, têm gerado um ambiente hostil que desencoraja a participação maioritária na política, de indivíduos qualificados e íntegros. Os meios de comunicação social muitas vezes enfatizam escândalos e controvérsias, não se focando também nas contribuições positivas de servidores públicos e políticos comprometidos com a ética. Além disso, a cultura política muitas vezes valoriza a retórica vazia e a procura por poder em detrimento de compromisso e competência. Parece evidente, que o exercício de funções públicas na política como se de uma missão altruísta se tratasse, é hoje, desafortunadamente, uma visão ingénua e afastada da realidade. Vários fatores podem ajudar a explicar as razões porque as pessoas competentes e sérias acabam por se afastar, ou nem sequer entrar na vida política. Entre os mais apontados estão, o Clima de descrédito e desconfiança, pois é sabido que a política é muitas vezes vista como um espaço marcado pela corrupção, clientelismo ou promessas não cumpridas e as pessoas íntegras podem recear ver a sua reputação manchada por associação a essas dimensões. Depois, dependo mais ou menos do âmbito, seja nacional, regional ou local, a Exposição pessoal e mediática, já que a vida política hoje, implica uma exposição constante, com escrutínio intenso de alguma comunicação social, para além das assassinas e sem controlo redes sociais. Inúmeras vezes a crítica ultrapassa o campo político e atinge a vida pessoal e familiar. Temos também as Lógicas partidárias fechadas, pois é sabido que a ascensão política depende muitas vezes de redes de influência, fidelidade interna e negociações, mais do que de mérito ou competência e quem não se encaixa nesse “jogo”, viverá a frustração e vontade de desistir. Há também os Custos pessoais e profissionais, pois a atividade política séria é muito exigente em tempo e energia e os profissionais competentes podem sentir que sacrificam carreiras estáveis e bem remuneradas para um ambiente instável e hostil. A Polarização e hostilidade, que no debate político tende a estar cada vez mais radicalizado e agressivo, deixa pouco espaço para diálogo construtivo, podendo por isso, pessoas sérias sentir-se deslocadas ou impotentes para influenciar de forma positiva. As Expectativas irreais da sociedade, que exige aos políticos a resolução de problemas complexos de forma rápida e perfeita, o que para os grandes obstáculos se torna difícil, já que requer tempo para dialogar/negociar com várias organizações, desde empresariais, a de trabalhadores, corporativas e outras. A frustração com essas expectativas da sociedade é geradora de descrédito, tornando a função ingrata. E por fim, a Ausência de participação da população, pois quando o político empenhado luta por causa dignas, justas e que a muitos dizem respeito, a exigível mobilização popular não acontece, gerando desmotivação por parte do político e uma possível e legitima avaliação de que o povo não é merecedor do esforço e dedicação aplicados. Em síntese, a política tornou-se, em muitos contextos, um espaço de desgaste e pouco retorno, o que afasta aqueles que, paradoxalmente, poderiam contribuir para a sua regeneração. Para atrair pessoas comprometidas e competentes, é preciso mudar as regras do jogo, torná-lo mais transparente, menos hostil, mais inclusivo e com impacto real. Só assim quem tem competência e vontade de servir se sentirá motivado a participar.