Dezenas de milhares manifestam-se em Itália para denunciar "genocídio" em Gaza
Dezenas de milhares de pessoas manifestaram-se hoje em várias cidades italianas para denunciar o "genocídio em Gaza", numa mobilização marcada por confrontos em Milão - com 18 detenções e 60 polícias feridos -, greves e bloqueios convocados por vários sindicatos.
Os protestos em Milão, que levaram à hospitalização de 23 dos 60 polícias feridos, coincidiram com o dia em que França e outros países deverão reconhecer o Estado da Palestina na ONU.
O reconhecimento francês do Estado da Palestina surge um dia depois de Portugal, Reino Unido, Austrália e Canadá terem dado esse passo diplomático. A Itália, porém, mantém-se prudente e não pretende, para já, associar-se a essa posição.
Em Roma, mais de 20 mil pessoas, segundo as autoridades locais, concentraram-se junto à estação Termini, muitos deles estudantes do secundário, empunhando bandeiras palestinianas e gritando palavras de ordem como "Palestina livre!" e "Contra o genocídio, bloqueemos tudo!".
As manifestações de protesto decorreram também noutras cidades de Itália e, em Milão, dezenas de manifestantes atiraram pedras e cadeiras contra a polícia e chegaram a entrar na estação central da cidade, antes de serem repelidos com gás lacrimogéneo.
Em Bolonha, manifestantes bloquearam uma autoestrada e foram dispersados com canhões de água, segundo a polícia. Houve ainda protestos em Turim, Florença, Nápoles, Bari e Palermo. Em Génova e Livorno, estivadores bloquearam cais portuários, de acordo com as agências noticiosas italianas.
Em Roma, o serviço de autocarros e metro sofreu perturbações.
Para hoje à noite, na capital italiana, está prevista uma vigília de solidariedade e oração promovida por associações católicas.
O Governo ultraconservador de Giorgia Meloni tem adotado uma posição muito cautelosa sobre a guerra na Faixa de Gaza, apesar de a primeira-ministra ter manifestado várias vezes a sua "preocupação" com a ofensiva israelita.
Roma recusa reconhecer, "para já", o Estado da Palestina e mostra-se reticente em relação a sanções comerciais da União Europeia (UE), embora recorde regularmente que não vende armas a Israel desde 07 de outubro de 2023, data dos ataques do Hamas que desencadearam a ofensiva israelita em Gaza.
Ao comentar os protestos, sobretudo os incidentes que ocorreram em Milão, Meloni considerou-os "vergonhosos" e apelou a todos os partidos para que os repudiem.
"As imagens que chegam de Milão são vergonhosas: autoproclamados 'pró-palestinianos', 'antifascistas' e 'pacifistas' a devastar a estação e a provocar confrontos com as forças de segurança", escreveu Meloni nas redes sociais.
"Violência e destruição que nada têm a ver com solidariedade e que não vão mudar em nada a vida das pessoas em Gaza, mas terão consequências concretas para os cidadãos italianos, que acabarão por sofrer e pagar os danos causados por estes arruaceiros", acrescentou.
Segundo um inquérito recente do instituto Only Numbers, 63,8% dos italianos consideram "extremamente grave" a situação humanitária em Gaza e 40,6% defendem o reconhecimento de um Estado palestiniano.
Nos últimos dias, o exército israelita intensificou as operações em Gaza, devastada por quase dois anos de guerra, com o objetivo de "aniquilar" o movimento islamita Hamas.
Os ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 causaram cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
A retaliação de Israel já provocou mais de 65 mil mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
Israel também impôs um bloqueio à entrega de ajuda humanitária no enclave, onde mais de 400 pessoas já morreram de desnutrição e fome, a maioria crianças.