Netanyahu defende que ataque ao Hamas no Qatar foi "totalmente justificado"
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, defendeu hoje que o ataque que ordenou contra dirigentes do Hamas no Qatar foi "totalmente justificado", pois este país mediador do conflito "acolhe" e "financia" o movimento islamita em Gaza.
"Se o Qatar quisesse, poderia facilmente ter exercido uma pressão muito maior, e isso ter-nos-ia ajudado a libertar todos os nossos reféns (na posse do Hamas em Gaza) nos primeiros meses da guerra", disse Netanyahu numa conferência de imprensa em Jerusalém, acerca da conduta do país árabe no conflito no enclave palestiniano.
"O Qatar está ligado ao Hamas, acolhe o Hamas e financia o Hamas. Tem alavancas poderosas [que poderia usar], mas optou por não as usar. (...) Portanto, a nossa ação foi inteiramente justificada", acrescentou Netanyahu, a propósito do ataque de 09 de setembro em Doha, num país que tal como Israel é aliado dos Estados Unidos.
Netanyahu insistiu que a decisão de atacar os membros do Hamas no Qatar foi inteiramente de Israel.
"Tomámos a decisão e executámo-la; é unicamente da minha responsabilidade", disse.
As forças israelitas atacaram uma delegação do Hamas em Doha quando os negociadores do grupo radical palestiniano analisavam uma proposta de cessar-fogo do Presidente norte-americano, Donald Trump.
O ataque matou cinco elementos do grupo islamita, que Israel, EUA e União Europeia consideram como terrorista e um polícia do Qatar.
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, pediu hoje ao emir do Qatar, Tamim ben Hamad Al-Thani, que mantenha o papel de mediador entre Israel e o Hamas, apesar do ataque israelita contra Doha.
Durante uma breve escala na capital do Qatar, após visitar Israel, Rubio encontrou-se com o emir no palácio real, antes de uma reunião à porta fechada com os conselheiros.
O Departamento de Estado norte-americano disse num comunicado que Rubio reconheceu os fortes laços entre Washington e Doha, e agradeceu os esforços do Qatar "para pôr fim à guerra em Gaza e garantir a libertação de todos os reféns".
Também hoje, Benjamin Netanyahu anunciou que vai reunir-se com Donald Trump após o seu discurso na próxima Assembleia Geral das Nações Unidas.
"Trump convidou-me para ir à Casa Branca. Vou encontrar-me com ele (...) depois do meu discurso na ONU", agendado para 26 de setembro, disse Netanyahu na conferência de imprensa.
Netanyahu explicou que manteve "várias conversações" com Trump, que manifestou publicamente o seu descontentamento com o ataque israelita no Qatar, e que foram "muito positivas", incluindo o convite para ir a Washington.
Vários países planeiam reconhecer o Estado palestiniano na Assembleia Geral da ONU deste ano em Nova Iorque, apesar dos protestos de Israel.
Marco Rubio prometeu, na segunda-feira em Israel, o "apoio incondicional" de Washington à eliminação do Hamas, depois de quase dois anos de uma guerra devastadora na Faixa de Gaza.
Apesar de se mostrar pessimista quanto a um eventual cessar-fogo, Rubio disse que apenas o Qatar teria capacidade para contribuir para esse objetivo.
A conversa com o emir do Qatar coincidiu com o anúncio do exército israelita do lançamento de uma ofensiva terrestre de grande escala sobre a cidade de Gaza.
O emir do Qatar afirmou na segunda-feira, numa cimeira de líderes árabes e muçulmanos em Doha, que o ataque israelita teve como objetivo "fazer fracassar as negociações" para travar a guerra.
Os líderes reunidos em Doha apelaram para uma revisão das relações diplomáticas com Israel e pediram a Washington para conter o aliado.
Antes do ataque de 07 de outubro, Israel e Estados Unidos terão incentivado discretamente o papel do Qatar, inclusive permitindo transferências de milhões de dólares para o Hamas, na tentativa de preservar alguma estabilidade na Faixa de Gaza.
O Hamas controla a Faixa de Gaza desde 2007, recusando a jurisdição da Autoridade Nacional Palestiniana, de Mahmoud Abbas, remetida a parte da Cisjordânia ocupada.