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Crónicas

Os segredos que nunca nos contaram

O entendimento científico não retira a beleza da emoção, pelo contrário: ela ganha nitidez quando a ciência explica o que as palavras não alcançam. Amar deixa de ser mistério para se tornar milagre quotidiano

Como seria a nossa vida, hoje, se soubéssemos isto desde sempre?

Somos redes de sinapses que acendem, silenciam, reacendem. É nas profundezas desse tecido nervoso, onde a química e a electricidade dançam, que se encontra um dos nossos cérebros mais íntimos, o cérebro pensante. É aqui que bate outro coração, neste cérebro que desenha pontes invisíveis entre sinapses e emoções. E é aqui que vivem os códigos escondidos do amor.

O nosso querido neurocientista, António Damásio, radicado nos EUA, é alguém que acompanho há anos com grande admiração. Dedica a vida a investigar como as emoções, incluindo o amor, moldam a nossa consciência e decisões, mostrando que cada sentimento tem uma base neuronal profunda.

Ao longos dos anos, a ciência tem vindo a oferecer uma chave acessível e rigorosa para entendermos o amor e as suas franjas. Tem vindo a revelar como é que o nosso cérebro interpreta a paixão, o desgosto, o amor.

Há uma semana, os meus olhos varriam uma banca de livros quando travaram a fundo num título novo: ‘Programados para Amar’. A obra foi lançada no mês passado, é da autoria da Luísa V. Lopes, neurocientista brilhante e coordenadora no Instituto de Medicina Molecular. Comprei-o na hora! Devoreio-a nessa noite.

A Luísa e eu temos uma crença comum (não obstante a dela tenha evidência científica e a minha, inicialmente, não): nascemos programados para amar, não para odiar ou ser agressivos.

A autora e neurocientista lembra que o amor não se limita a uma descarga de neurotransmissores; é uma experiência complexa, modulada pela cultura, tecnologia e até pela forma abrupta como o coração se parte. Fico sempre fascinada quando vejo estas descobertas. Há muito que venho partilhando ideias semelhantes com os meus alunos de programação neurolinguística e parentalidade generativa, apoiando-me na PNL e nas pesquisas em neurocardiologia e física quântica do HeartMath Institute (que oferece uma compreensão científica do amor e das emoções, destacando o papel do coração como um centro de inteligência emocional e partilhando ferramentas práticas para cultivar estados de coerência e bem-estar).

Uma relação saudável, com compromisso, como um casamento, constrói-se todos os dias. É isso que a torna única, intensa e inesquecível. Porque o amor não é só encontro; é também espaço, pausa e a coragem de ficar.

Tudo começa com um momento quase mágico: um olhar, um toque, uma conversa capaz de reconfigurar o cérebro. Parece milagre, mas há ciência por trás disso. O amor não é apenas um sentimento; é um estado neuronal de recompensa e curiosidade que nos transforma.

Atingir o primeiro encanto já é extraordinário. E então, preparar o terreno para que ele persista com os anos? É isso que a ciência nos mostra. Investigando casais apaixonados ao longo de décadas, Luísa V. Lopes revela que, mesmo depois de 20 ou 30 anos juntos, a paixão pode reluzir com força. Quando vistas imagens do parceiro, áreas cerebrais associadas à paixão despertam, como se fosse a primeira vez.

O cérebro, segundo essas evidências, nunca abandona a capacidade de se encantar. Pelo contrário, ele procura o novo: a surpresa ativa o sistema de recompensa, reacende a curiosidade, convoca memórias prazerosas e cria vontade de repetir emoções boas.

Em cada relacionamento, o encanto pode persistir se cultivarmos essa novidade: um olhar penetrante, um gesto inesperado, uma viagem surpresa, uma ideia a dois. Tal como partilhei na crónica anterior ‘Só o amor não basta’. São esses momentos que reativam o circuito da dopamina, que o cérebro associa à intensidade do início do amor e que, quando bem usados, renascem com a mesma intensidade. Amar bem, vivendo o encanto, não é apenas sentir. É lembrar ao cérebro que ainda vale a pena acender o circuito da paixão agora, com plenitude.

O segredo científico, então, está no movimento: o amor não é estático, nem meramente confortável. É aventura partilhada, é criatividade sutil, é escolha repetida de encantar e de se encantar, em cada pequeno gesto, em cada manhã ou noite.

Sue Johnson, psicóloga e criadora da Terapia Focada nas Emoções, lembra-nos que o amor possui uma força silenciosa e transformadora: “tem uma capacidade imensa de curar as feridas devastadoras que a vida às vezes nos impõe, aumenta o nosso sentido de conexão com o mundo maior e torna a responsividade amorosa a base de uma sociedade verdadeiramente compassiva e civilizada.”

E no meio de todo este conhecimento há uma verdade irrefutável, o mais doloroso não é esquecermo-nos de amar. É esquecermo-nos de que somos Amor. Muitas vezes confundimos o verbo com o substantivo. Só conseguimos amar porque, antes de tudo, o Amor já é a nossa essência. Ele sempre esteve em nós, a pulsar no lugar mais íntimo do nosso ser. Somos esse Amor! E talvez, para não perdermos esta memória tão essencial, devêssemos gravá-lo no próprio nome.