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Análise

Barreiras

Mais uma vez, somos portugueses de segunda no que toca às oportunidades

1. Nesta primeira fase de acesso ao Ensino Superior, 1.130 estudantes madeirenses apresentaram candidatura. Quase metade (42,5%) colocou a Universidade da Madeira como primeira opção, um número expressivo para uma instituição ainda jovem no panorama académico nacional.

Embora a oferta formativa já abranja várias áreas do saber, muitos jovens mantêm o desejo de estudar noutro ponto do país. As razões vão desde a excelência reconhecida de alguns quadros docentes, que também os há na UMa, sublinhe-se, à posição de certas instituições nos rankings, passando igualmente pela vontade de conquistar autonomia e iniciar a vida numa cidade com mais saídas profissionais. Tudo legítimo.

Porém, para um aluno madeirense, estudar fora tornou-se cada vez mais difícil se não houver o apoio de familiares a residir na cidade de destino. O preço dos quartos em Lisboa, Porto ou Coimbra é proibitivo para famílias com rendimentos médios, a maioria. Só os mais privilegiados suportam mensalidades tão elevadas. E quando se soma a primeira renda, a caução e a eventual exigência de um fiador, o sonho de estudar no continente transforma-se, para muitos, numa impossibilidade. Os 1.324 euros de salário médio na Região explicam o resto.

É certo que a forte procura pela nossa universidade é positiva. Mas é igualmente frustrante ver alunos com médias suficientes impedidos de sair da ilha por limitações financeiras. Mas é isso que está a acontecer. Não adianta fingir que o problema não existe. Já um jovem de Lisboa, Porto ou Coimbra tem, ao seu alcance, várias instituições públicas num raio próximo de casa.

Mais uma vez, somos portugueses de segunda no que toca às oportunidades. É verdade que a situação melhorou nas últimas décadas, mas ainda não é suficiente. É preciso atingir a paridade real, e cabe ao poder político lutar por essa igualdade. O valor das bolsas de estudo continua a ser insuficiente para suportar tanta despesa. Madeira e Açores poderiam, em conjunto, criar soluções de alojamento no continente, através por exemplo de protocolos de habitação, nos principais centros educativos, a preços justos, permitindo que insulares e continentais partam do mesmo ponto na corrida pelo futuro.

2. Em final de mandato Cristina Pedra decidiu suspender as licenças para Alojamento Local em prédios de habitação no Funchal. Fez bem em fazê-lo. Deveria de o ter feito mais cedo, mas mais vale tarde do que nunca. O regulamento municipal que rege o AL tem de ser alterado de forma a não permitir que a selva se instale, que o ruído se propague e que o descanso dos moradores seja constantemente posto em causa. A grande pressão turística, evidente a quem anda na rua e conduz nas estradas da Madeira, começa a gerar um sentimento pouco recomendável na população residente. Tem de passar a haver maior organização e controlo de forma a proteger o motor da economia regional. Turismo, sempre, mas com regras claras e mecanismos eficientes que impeçam o caos.

3. O segundo partido da Região, o JPP, não vai estar presente com candidaturas em todos os concelhos da Madeira, nas eleições autárquicas. São Vicente, Santana e Porto Santo ficam de fora. Para um partido com legítimas aspirações no futuro não deixa de ser estranho não concorrer a todos os municípios. Não conseguiu mobilizar pessoas para todos os órgãos? Falta de quadros que obrigatoriamente o primeiro partido da oposição tem de ter? Ou é por algum motivo táctico que transcende à opinião pública?