1.º Encontro de Despique de Machico

Neste último sábado do mês de maio, juntaram-se na Ribeira Seca, terra natal do Arnaldo Ferreira Góis, um dos maiores no nosso tempo da arte do despique, muitos populares locais, bem como vários cantadores da arte do repentismo, para homenagear o seu talento e o seu contributo em prol da preservação e defesa de uma das formas da canção popular madeirense - o despique, com origem em outras geografias de Portugal Continental. O despique é uma forma de diálogo poético e musical, que envolve dois ou mais cantadores que desfiam versos improvisados um ao outro, onde a criatividade e a capacidade de improvisação são postas à prova. A improvisação pode em cada contexto refletir sentimentos de devoção religiosa, como de desforra ou de discussão bastante acalorada. Estas contextualizações foram experienciadas pelo homenageado do 1º Encontro de Despique de Machico que, em boa hora, o Centro Cívico Cultural e Social – Ribeira Seca (CCCS-RS) pretendeu levar a cabo. Arnaldo Góis, era um homem do povo e do povo solta-se a voz do despique, a poesia em forma de literatura oral, aquela em que o homenageado soube eximiamente engrandece-la, dando-lhe corpo, voz, rima e sentimento. Neste sentido, são testemunhos desta sua paixão, as suas intervenções artísticas em rodas de despique, quer em encontros regionais, quer nos arraiais mais concorridos da nossa ilha.

Além destes eventos, o Sr. Arnaldo, não perdia um convívio das missas do parto da sua paróquia - Ribeira Seca, onde o seu sentido de improvisação ganhava a todos os seus pares, com maquinados versos em que, muitas vezes, ponha à prova a criatividade dos seus pares, como a da Sra. Conceição Vasconcelos, uma académica destas coisas do despique. Na sua comunidade nunca deixou de participar, mesmo já adoentado, nas festas do Divino Espírito Santo, onde voluntariamente assumia o papel de arrematador e de animador de circunstância, mantendo o público animado e participativo nas concorridas tradicionais arrematações. Pela feliz iniciativa, pela interatividade entre memória e saudade do homenageado, pela valorização e proteção do património imaterial local, o CCCS-RS mostrou compromisso e honra na credibilização e na defesa do despique, como forma de perpetuar o legado artístico dos poetas populares da sua terra.

Severino Olim