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Fact Check Madeira

Será que o cardeal Tolentino defende a abertura da Igreja à comunidade LGBTQI+?

Tolentino Mendonça com a teóloga beneditina Teresa Forcades, defensora dos direitos da comunidade LGBTQI+ e cujo livro prefaciou.
Tolentino Mendonça com a teóloga beneditina Teresa Forcades, defensora dos direitos da comunidade LGBTQI+ e cujo livro prefaciou.

Nos últimos dias, a escolha de um novo Papa para a Igreja Católica suscitou inúmeras análises e opiniões sobre os favoritos à sucessão de Francisco. Nalgumas abordagens ao perfil dos candidatos, o cardeal madeirense Tolentino Mendonça foi apresentado como alguém que tem manifestado abertura e compreensão em relação às questões das pessoas da comunidade LGBTQI+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros, queer, intersexos e assexuais). Será que esta ‘colagem’ faz algum sentido?

Antes de mais, há que realçar que há várias correntes na Igreja Católica, sendo que os padres, bispos, cardeais e papas costumam ser rotulados de conservadores ou progressistas consoantes as posições que assumem em relação a questões como os problemas sociais (como a pobreza e a exclusão social), a integração e não discriminação de minorias (étnicas, raciais, sexuais, etc.), a participação das mulheres na Igreja e o relacionamento com as outras religiões (ecumenismo). O falecido Papa Francisco é comummente classificado como progressista. “Todos, todos, todos” é uma das frases mais marcantes do seu pontificado e anuncia uma Igreja onde “há espaço para todos”, sejam jovens, idosos, sãos, doentes, justos e pecadores.

O cardeal Tolentino Mendonça é mais conhecido pelo seu trabalho literário, na área da poesia, do que propriamente pela suas posições em relação a questões sociais. No entanto, ao longo dos anos, tem dados sinais sobre o seu pensamento em alguns temas fracturantes.

Por exemplo, em 2010, quando era ainda padre e estava colocado na Paróquia de Santa Isabel (Lisboa), Tolentino Mendonça foi convidado numa reportagem do jornal ‘Público’ a dar a sua opinião sobre o livro ‘O Casamento Sempre Foi Gay e Nunca Triste’, da autoria de José António Almeida, lançado no ano anterior e que abordava a temática da homossexualidade entre os católicos. “É um texto que mostra a procura de um cristão, com poemas de grande intensidade. Dá que pensar”, referiu o madeirense.

Em 2013, Tolentino Mendonça prefaciar a versão portuguesa do livro da teóloga beneditina Teresa Forcades "A Teologia Feminista na História". Esta religiosa catalã é conhecida pelas suas posições pró-LGBTQI+ e tem sido alvo de críticas por sectores conservadores da Igreja. Ainda ontem e no âmbito do processo de escolha do novo papa, o jornal conservador italiano ‘Libero Quotidiano’ recordou esse facto num artigo com um título que, no mínimo, é provocatório: “José Tolentino, o cardeal poeta que ama freiras ‘queer’”.

Em Dezembro de 2016, numa entrevista à Rádio Renascença, o padre madeirense defendeu que a missão central da Igreja é o acolhimento. Em resposta a questões sobre as pessoas das periferias da sociedade (casais recasados, gays etc.), afirmou que “a Igreja tem de realizar como experiência central da sua missão o acolhimento” e alertou que muitas pessoas se sentem excluídas. Destacou que “ninguém pode ser excluído do amor e da misericórdia de Cristo”, incluindo “as pessoas homossexuais, que na Igreja têm de encontrar um espaço de auscultação, de acolhimento e de misericórdia”.

Em dezembro de 2016, numa conversa com o jornalista Bernardo Mendonça no podcast “A Beleza das Pequenas Coisas” do jornal ‘Expresso’, Tolentino reforçava a mensagem de inclusão: “Sinto que a igreja precisa de crescer muito na linha do que diz o Papa Francisco, numa cultura de acolhimento. Há muitas pessoas que se sentem excluídas da igreja, que não se sentem acompanhadas e toda a gente tem direito a isso. A própria igreja e o espaço cristão precisam de encontrar um outro discurso e atitude em relação às pessoas homossexuais, tem de ter um olhar de acolhimento. Os homossexuais são nossos filhos, irmãos, colegas, companheiros. Todos juntos temos de fazer um caminho”.

Em jeito de resumo, concluímos que o cardeal madeirense tem reiteradamente defendido que a Igreja deve acolher as pessoas LGBTQI+ com respeito e misericórdia. Em entrevistas e textos, enfatizou que “ninguém pode ser excluído do amor e da misericórdia de Cristo” e que homossexuais devem encontrar na Igreja “um espaço de auscultação, de acolhimento e de misericórdia”.

"O cardeal Tolentino Mendonça tem uma actuação alinhada com [a comunidade] LGBTQIA+ e com as esperanças progressistas", Nikki Dobrin, no site kfiam640