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Madeira

Há 50 anos, entre a hipótese de tarifas à importação e o rescaldo de forte sismo

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Na edição do DIÁRIO de 28 de Maio de 1975, pouco mais de um ano após a 'Revolução dos Cravos' e com um governo liderado por um brigadeiro (Vasco Gonçalves) e presidido por um general (Francisco da Costa Gomes) e a meio do PREC (Processo Revolucionário em Curso), marcado pelo golpe falhado de 11 de Março, as notícias que marcavam o dia eram a proposta de aplicação de tarifas aduaneiras sobre as importações, tema muito recorrente nos dias recentes, mas também o rescaldo de um forte terramoto que assolara a Madeira dois dias antes.

Vamos aos factos. A notícia de maior destaque na primeira página era o "Reforço da aliança com o povo através da ligação da estrutura do M.F.A. às organizações populares", sendo que este foi “um dos pontos debatidos na Assembleia dos Militares”, realizada em Lisboa, no rescaldo da referida crise política. A cerca altura no texto cita-se as palavras do comandante do Comando Operacional do Continente (COPCON) , o na altura já brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho, que dissera: "Ou construímos realmente o socialismo em Portugal, utilizando o MFA, os partidos (a partir do momento em que esses partido têm a possibilidade, realmente, de fazer uma grande mobilização de massas) e o Povo, ou, então, abolimos as cúpulas partidárias e ligamo-nos directamente ao povo." Também fala-se na proposta de criação de Comités de Defesa da Revolução, geridas por militares, ao estilo do que se fizera em Cuba.

A reunião advogou ainda apoio ao primeiro-ministro Vasco Gonçalves, que estava de partida para Bruxelas, onde à margem de uma reunião da NATO, tinha agendado encontro com o então presidente dos Estados Unidos da América, Gerald Ford (1974-1977), além de "encontros bi-Iaterais com o primeiro-ministro britânico, Harold Wilson, chanceler da República Federal da Alemanha, Helmut Schmidt, primeiro-ministro canadiano, Pierre Trudeau" e, ainda, "com o primeiro-ministro do Luxemburgo, Thorn, a pedido dos estadistas referidos e, ainda, com o primeiro-ministro belga, Leo Thindemans, a pedido do primeiro-ministro português", escrevíamos. Na mesma edição é referido que os dois brigadeiros já citados tinham acabado de ser promovidos a general. 

Ao mesmo tempo, em reunião de Conselho de Ministros foi decidido e noticiámos que estavam "Previstos agravamentos de impostos nas importações". Isto porque "o 'deficit' da balança comercial portuguesa (importações menos exportações) ultrapassou os dez milhões de contos no primeiro trimestre deste ano - mais do dobro do 'deficit' registado no primeiro trimestre de 1974 (49 milhões de contos). Não obstante um certo acréscimo do valor das exportações (de 10.4 para 12.7 milhões de contos, o que em grande parte reflecte a mera alta de preços), o alargamento do desequilíbrio liga-se ao fortíssimo aumento das importações (que passaram de 15,3 milhões de contos em Janeiro-Março do ano passado para 22,7 milhões em igual período do corrente ano)", acrescentando-se ainda que "não admira, assim, que o Conselho de Ministros, na sua reunião restrita ontem, tenha apreciado medidas visando o equilíbrio da nossa balança comercial bem como de protecção da indústria nacional, através de novas tributações às importações".

Além desta notícia que faz uma ligação histórica curiosa com a actualidade, dadas as intenções proteccionistas do actual presidente norte-americano, nota para outras duas notícias, no mínimo, curiosas: a eleição de Emídio Guerreiro como secretário-geral interino do PPD-PSD (durante 4 meses), em substituição de Francisco Sá Carneiro, ausente por doença entre Maio e Setembro de 1975. Sendo um dos regressados do exílio no pós-25 de Abril, junta-se ao PSD, mas "afasta-se do partido por questões ideológicas em 1976 e adere ao Partido Renovador Democrático", como recorda ainda hoje o partido. Na notícia em si, pode-se ler: "Na sessão de ontem o Conselho Nacional considerou, no terceiro ponto da sua ordem de trabalhos, a possibilidade de modificações a introduzir na orgânica interna do partido, a fim de lhe conferir 'um dinamismo correspondente à confiança que milhão e meio de eleitores depositaram no seu programa de luta pelos direitos e liberdades fundamentais, pela democracia e pela construção de um socialismo humanista'."

A outra notícia curiosa, fez anos ontem, mas publicada há 50 anos neste DIÁRIO, a notícia "Publicada a Lei do Divórcio". E explicava: "Acaba de ser publicada a lei do divórcio, que permite o divórcio dos casados catolicamente e institui, pela primeira vez em Portugal, o divórcio por mútuo consentimento. Com a publicação deste diploma legal, fica revogada a disposição que não permitia a dissolução por divórcio dos casamentos católicos celebrados desde de Agosto de 1940 (data da entrada em vigor da Concordata) e que permitia decretar separação, quando requerido o divórcio."

Por fim, outro dos destaques desta edição, é o rescaldo do terramoto que assolara todo o território nacional a 26 de Maio de 1975. "Ainda o sismo de anteontem - Poucas hipóteses de maremoto". No texto a abrir escrevíamos: "A actividade dos barcos de pesca na costa madeirense voltou à normalidade, por serem manifestamente remotas as hipóteses de um maremoto, como consequência do sismo que no dia anterior assolou o nosso Arquipélago. Efectivamente, a Ciência consegue definir que 'quando o centro sísmico fica no mar e a fraca distância da linha da costa, originam-se vagas sísmicas, a que os franceses chamam raz de marée. As águas afastam-se do litoral para depois se lancarem de encontro à costa, em vagas alterosas e sempre muito violentas. Por vezes atingem uma altura de mais de 20 m. Ora, no caso do sismo de anteontem, o seu epicentro foi estimado a centenas de milhas de distância da Madeira, o que naturalmente não faz prever que o hipotético maremoto viesse atingir a nossa Ilha. De notar, até, que o mar, em toda a costa madeirense, tem-se apresentado muito calmo nos últimos dois dias."

Refira-se que os relatos deste terramoto, expressos em primeira impressão na edição do dia 27, davam conta que a "A terra tremeu durante 35 segundos"...

Leia toda a edição descarregando o pdf anexo.