“Por favor não matem a galinha dos ovos de ouro”
O turismo na Região Autónoma da Madeira tem vindo a aumentar todos os meses. Encontramos turistas por todo o lado, criando-se aquilo a que se chama “turismo de massas”, em prejuízo do turismo tradicional, de um modo geral com muito mais meios do que a maioria dos actuais visitantes.
Vemos muitas pessoas nos restaurantes baratos, substituindo o pequeno-almoço e o almoço pelo chamado “brunch”, ou seja, passam de três refeições por dia para uma, deixando de comer os pratos típicos da região, optando, muitas vezes por um prato que podem comer em qualquer parte do mundo. Vemos turistas que alugam um carro e dormem dentro dele ou colocam uma barraca de campismo ao lado/por cima do carro, em plena via pública ou, mesmo num parque de estacionamento. Um turismo barato que pouco ou nada gasta na Madeira, para além do supermercado.
Vemos muitos turistas que no dia da chegada compram uma garrafa de água, e que depois são vistos sentados em cima dos muros das estradas a comer uma sandes ou uma peça de fruta que trouxeram do pequeno-almoço do hotel onde estão hospedados e a beberem água de uma garrafa que reencheram numa torneira qualquer.
O governo regional publica todos os meses as estatísticas do turismo e os números são sempre maiores em relação ao mês homólogo do ano anterior, mas na verdade não preparou a Madeira para isso. Cobra entradas em tudo o que é sítio, mas não fez parques de estacionamento capazes de receber todos os carros “rent-a-car” que por aí andam. Aliás não só não fez, como não permitiu que se fizessem, nalguns casos, nomeadamente no Seixal, a mais linda terra do Norte, que com as suas piscinas naturais das Lesmas e Mata Sete e a praia de areia preta atraem muito turistas, que, como não têm onde estacionar, param em tudo o que é sítio, nomeadamente em frente a portas de casas e de garagens, provocando uma certa “revolta” nos residentes. Ainda na mesma freguesia, a Câmara Municipal, depois de arranjar as paredes de um ribeiro, que nunca traz água, das chuvas, autorizou a construção de um parque de estacionamento e o governo regional chumbou.
Há dias fui até ao Cabo Girão com pessoas do continente que nos visitaram e não consegui lugar para estacionar o carro. Encostei num canto, mal parado e fiquei dentro, para uma eventualidade de ser necessário, afastar o carro. Primeiro cobra-se dinheiro para visitar esta zona e depois nem se pensa no estacionamento. Note-se que nos arredores existem muitos terrenos ocupados a mato que dariam uns bons parques de estacionamento. Nem falamos no Pico do Areeiro, que apesar de ter um parque de estacionamento, continuam a estacionar nas proximidades do pico, em vez de utilizarem o parque, que a determinadas horas já não chega para suportar todos os carros que ali vão.
No Ribeiro Frio, na Ponta de São Lourenço, idem aspas e em muitos outros locais da Madeira.
Em resumo, o Governo Regional não se preocupou, através das diferentes secretarias, como a do turismo, a da Agricultura, da Economia e outras, em lidar com este grande aumento de turismo na nossa Região. Preocupou-se em arrecadar uns trocos nuns miradouros e numas veredas, mas não se preocupou com quem nos visita, o que denota um grande egoísmo da sua parte. Andou ao contrário, primeiro dar condições e depois cobrar.
Dei o título a este artigo com uma frase de João Borges, já falecido, grande conhecedor do nosso turismo, “Por favor não matem a galinha dos ovos de ouro”.