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eleições legislativas Madeira

Deputado, mas ainda presidente da Câmara

Filipe Sousa, o cabeça-de-lista do JPP pela Madeira às Legislativas, que conseguiu o feito histórico de eleito à Assembleia da República, confessa que dormiu mal e, no regresso à autarquia, o carro não pegou

Depois de uma noite mal dormida e de um curto descanso na vitória eleitoral, Filipe Sousa, ontem eleito deputado do Juntos Pelo Povo (JPP) à Assembleia da República, reassumiu esta manhã o cargo de presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz. O regresso, embora temporário, marca mais um episódio numa gestão autárquica marcada por sucessivas suspensões de mandato, sempre ao compasso de actos eleitorais inesperados.

À pergunta sobre como foi a primeira noite depois de eleito, a resposta sai com franqueza: “Nem por isso. Acordei não sei quantas vezes.”

A ansiedade, reconhece, não foi total, mas a expectativa esteve presente até ao último momento: “Estava confiante, mas sempre naquela... Não há como preto no branco. Sempre com o pé atrás. Mas estava esperançoso. Aliás, por aquilo que as pessoas expressavam na rua, eu já tinha dito, acho que foi no último dia de campanha, na sexta, que a forma simpática como nos recebiam era totalmente diferente do ano passado. Eu sabia que íamos subir. Agora, se a subida era suficiente ou não, era a questão.”

Com a saída das primeiras projecções, sentiu-se mais confiante — embora ainda cauteloso. “Não diria aliviado, mas mais confiante. Confiança reforçada com os primeiros resultados que comecei a perceber, que para mim são indicadores relevantes: a minha freguesia de Gaula e o Santo da Serra. Vi logo que o Chega ia ter uma boa votação, e nós também. A dúvida era se ficávamos à frente do PS ou não. Foi por pouco.”

Sobre o regresso à Câmara, Filipe Sousa reconhece o carácter atípico dos últimos tempos: “É atípico. Não estava previsto. As eleições regionais não estavam previstas. Fui o ano passado, fui este ano, e agora estas legislativas também não estavam previstas.”

Mesmo assim, rejeita a ideia de que a gestão autárquica tenha sofrido com os seus afastamentos temporários: “Não, acho que é mais para mim que prejudica, porque gosto de acompanhar os processos em todas as áreas. Gosto do contacto directo e nem sempre foi possível ter essa proximidade com os munícipes.”

Exemplo prático surgiu logo pela manhã: “Estava no café a tomar o pequeno-almoço e uma senhora dizia-me que recebeu um aviso que a estrada da Morena vai ficar interrompida. Interrompida, mas porquê? Vim entretanto a saber que é para o lançamento de esgotos e pavimentação. Sabia que estava no plano de investimento, mas não sabia que já estava nessa fase. São estes pormenores que escapam.”

Mesmo fora do cargo, Filipe Sousa nunca se desligou completamente da Câmara: “É difícil, para não dizer impossível. Em momento algum fico completamente desligado. Sou sempre abordado pela população, chamado. E não é por ter o mandato suspenso que vou fechar a porta a quem me procura. Quando me colocavam uma dúvida, um problema, não dizia ‘olhe, não estou na Câmara, vá à Câmara’. Ligava, tentava perceber o que se passava. Nem que fosse para fazer ponte.”

A primeira manhã após ser eleito deputado da Nação não começou da melhor forma.

“De facto esta noite mal dormi. Tanto que logo pela manhã não acordei, porque já estava acordado há muito tempo. Saí de casa por volta das 7h30. Tive um problema com o carro, não dava a mise (ignição). Acho que esteve muito tempo parado. Quando entrei, ele não me reconhecia.”

Questionado sobre o que espera da sua estreia na Assembleia da República, o novo deputado mostra-se realista, mas determinado: “Acho que vou fazer algo diferente. Apesar de ser um no meio de 230, não me envergonho nem me intimida. O que me deixa um pedacinho preocupado é ser natural e espontâneo. Tenho de ter equipas na rectaguarda, uma boa assessoria jurídica, um apoio técnico. Eu ali sozinho, sendo deputado único que tem de pagar em várias matérias, não é fácil. As matérias da região domino, mas preciso de apoio. Ainda não tenho nada planeado.”

Presença garantida no Dia do Concelho

Mesmo prestes a tomar posse em São Bento, Filipe Sousa não abdica de marcar presença a 25 de Junho, no Dia do Concelho: “Só sei que vou estar aqui no Dia do Concelho, seja como presidente de câmara, seja como deputado.” A preferência, confessa, é clara: “Estava a planear uma cerimónia, como era a última. Gostava de estar, mas se não for eu, será a Élia, e sei que o fará muito bem.” Perante a incerteza, deixa uma garantia: “Caso não seja possível a suspensão para reassumir só naquela ocasião, uma coisa garanto: mesmo que tenha trabalho parlamentar nesse dia, vai ser a primeira falta que vou dar na República”, assegura.