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Pais sensibilizados para a importância do diagnóstico precoce.
Explicador Madeira

Rastreio gratuito de 28 doenças à nascença

No ano passado, nasceram na Madeira 1.793 bebés. Os registos do INSA apontam apenas para 1.752 ‘testes do pezinho’ realizados

O ‘teste do pezinho’ não é obrigatório, mas é fortemente recomendável a sua realização. Isso mesmo é defendido, a nível nacional, pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), posição subscrita pela generalidade dos profissionais de saúde. Cláudia Pereira, enfermeira especialista em Saúde Infantil e Pediátrica, que há mais 12 anos tem realizado este teste no Centro de Saúde de Santo António, também não se cansa de sensibilizar os pais para a importância deste diagnóstico precoce.

Dando atenção aos números de nascimentos e de rastreios do ano passado, na Madeira, podemos apontar uma diferença de 41 testes não realizados. Mas isto não significa que outras tantas crianças tenham ficado por rastrear, logo à nascença, um conjunto de doenças, quase sempre genéticas, que poderão beneficiar de tratamento precoce.

Os dados até agora tornados públicos não nos permitem apurar com exactidão qual a diferença efectiva entre o número de crianças nascidas e aquelas que terão realizado o ‘teste do pezinho’, mas deixam perceber, ainda assim, que há recém-nascidos que não são testados.

De acordo com os dados já divulgados pela Direcção Regional de Estatística, no ano passado, nasceram, na Região, 1.793 bebés. Por outro lado, revela o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) que, nesse mesmo período, na Madeira, foram realizados 1.752 ‘testes do pezinho’. Mas, parte da diferença apurada pode ser ‘absorvida’ pelo facto de a colheita do sangue só poder ser realizada a partir do 3.º, e até ao 6.º dia de vida da criança.

Quer isto dizer que as crianças nascidas entre os dias 29 e 31 de Dezembro de cada ano só são testadas no ano civil seguinte. E se há anos em que as diferenças quase se anulam (entre os que entram do ano anterior e os que só são contabilizados no ano seguinte), outros há em que há sempre alguma diferença a merecer atenção.

Em todo o caso, no apuramento dos números anuais, o INSA considera sempre a data da colheita. Os dados daquele Instituto dão conta de que, em 2024, foi no mês de Outubro que foram rastreadas mais crianças na Madeira, num total de 180 ‘testes do pezinho’ realizados. Logo depois surge o mês de Julho, com 163, e o mês de Janeiro, com outros 161 testes. No sentido oposto temos Dezembro, com apenas 128 rastreios concretizados.

Os dados do rastreio realizado no ano passado só serão tornados públicos no último trimestre deste ano, após a análise e tratamento dos mesmos. Mas, com referência aos dados de 2023, de acordo com a apreciação do Programa Nacional de Rastreio Neonatal e respectivo relatório divulgado pelo INSA, podemos constatar que foram identificados, nesse ano, dois casos de Hipotiroidismo Congénito (de um total nacional de 44 casos) e um de Doenças Hereditárias do Metabolismo (das 46 situações diagnosticadas no todo nacional).

Embora, actualmente, a abrangência do Programa Nacional de Rastreio Neonatal, mais concretamente do ‘teste do pezinho’, já ultrapasse os 99% em todo o País, e também na Região, o esforço de muitos profissionais de saúde vai no sentido de sensibilizar os pais para a importância deste simples teste.

É o caso de Cláudia Pereira, enfermeira no Serviço Regional de Saúde, que exerce actualmente no Centro de Saúde de Santo António. Ao longo da sua prática clínica garante nunca ter encontrado pais que recusem a realização deste rastreio gratuito.

Reconhecendo que esta é uma decisão que cabe aos pais, a enfermeira especialista em Saúde Infantil e Pediátrica nota que “desde o hospital até ao centro de saúde, todos os profissionais explicam em que consiste o rastreio e a sua importância, ou mesmo como é que é feito”. Além disso, enfatiza a sensibilização que é feita às grávidas, já na preparação para o parto, factores que entende contribuírem para a adesão quase total que os números confirmam.

Sobre o “teste do pezinho”, Cláudia Pereira reforça que se trata “de um rastreio que é feito nos primeiros dias de vida, idealmente, num bebé que nasce após as 37 semanas, entre o 3.º e o 6.º dia de vida”.

Realça, nesse sentido, que “apesar de não ser obrigatório, é extremamente recomendável, porque a partir deste teste podem ser diagnosticadas 28 doenças graves, que embora raras, se forem detectadas numa fase de precoce têm tratamento, sendo devidamente encaminhadas para centros especializados”.

A enfermeira reconhece que alguns pais apresentam algum receio, sobretudo quanto à dor para a criança. Mas a especialista em Saúde Infantil e Pediátrica tranquiliza os progenitores, notando que as técnicas utilizadas potenciam o conforto para o recém-nascido e quase não provocam dor. Esse cuidado é tido, também, para com os pais, que nessa fase de vida do seu filho, “estão numa fase muito sensível”.

Cláudia Pereira dá conta de que, no momento da realização do teste, aos pais é dado um folheto informativo e um código para acesso ao resultado do teste, numa página de Internet do Programa Nacional de Rastreio Neonatal. Além disso, salienta que em caso de algum valor anormal, os pais são contactados directamente pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge ou pelo Centro de Saúde.